sábado, 30 de abril de 2011

Joy Division, por Renan Brito.




Em 2007, o diretor inglês Grant Gee, que já havia realizado um documentário sobre Radiohead, fez Joy Division, e tentou resgatar a história de uma banda que se mitificou com a morte do vocalista e líder do grupo Ian Curtis. Partindo do pressuposto de que toda manifestação artística faz parte de um contexto histórico, Grant Gee investigou o cenário musical da época, assim como o momento histórico da cidade de onde surgiu o grupo. No início do filme, o comentário de Tony Wilson, produtor da banda, corrobora:
“Eu não vejo isso como a história de um grupo pop. Vejo isto como a história de uma cidade que uma vez foi brilhante, audaz e revolucionária.”

A Manchester, cidade natal da banda Joy Division, na década de 1970 perecia às ruínas de uma cultura industrial engendrada por ter sido berço da Revolução Industrial. Sua decadência, caracterizada pelo fechamento de indústrias, pelo desemprego, foi o palco para o surgimento de um cenário musical conhecido por bandas como The Smiths, Buzzcocks, Morrisey, além de Joy Division. Angela Prysthon, citando Giacomo Bottà, em artigo sobre música e sensibilidades culturais (termo emprestado de Celeste Olalquiaga), fala sobre a influência da música popular sobre a cidade. Giacomo usa termos como paisagens textuais, sonoras e visuais (tradução minha) para identificar na música aspectos particulares do local onde é produzida. Em Joy Division, principalmente no segundo álbum, Closer, os ruídos industriais, o som acústico e reverberado, como se tocassem dentro de um galpão, entre outros sons não-musicais, são exemplos de como a música se constrói também como uma paisagem. Giacomo entende essa manifestação como paisagem sonora. O uso de nas letras de referências a lugares formariam a paisagem textual. A paisagem visual, na música, seria o uso dos elementos visuais que se referem a um lugar em particular.

Afinal, como produto que se perpetua no tempo, a música carregará essa paisagem e transformará o imaginário da cidade. Se Joy Division surgiu a partir das ruínas, do tédio, da melancolia, mas também dos clubes que promoviam shows, do movimento musical e juvenil da época etc, também podemos afirmar que Joy Division reinventou essa imagem e a fez reverberar através da História. Durante o documentário, alguém comenta sobre como a paisagem urbana e o momento histórico de Manchester estavam impregnados nas letras e no som das músicas. Os ruídos já comentados, o som muito reverberado, tudo isso por trás da melodia e das letras melancólicas de Ian Curtis promove no imaginário não só o efeito musical, mas também visual, uma experiência estética.

O documentário, então, se afunila em seu processo investigativo: ao contextualizar, falar da cidade, passa a falar do cenário musical, depois sobre a banda Joy Division para, finalmente, encontrar seu centro em Ian Curtis. Uma certa aura rodeia o já mitificado Ian Curtis, e persiste nos depoimentos dos entrevistados, de todos os que o conheceram. Nesse sentido, Grant Gee não pretende desvendar o mistério por trás do gênio, mas deixar perpetuar seu mito no nosso imaginário, talvez por acreditar que sua imagem seja um reflexo da Manchester esgotada das décadas de 1970 e 1980.

Referência:
PRYSTHON, Angela. "Cidades e música: Sensibilidades culturais urbanas." In: Angela Prysthon; Paulo Cunha Filho. (Org.). ECOS URBANOS. A cidade e suas articulações midiáticas. 1 ed. Porto Alegre: Sulina, 2008, v. 1, p. 185-199.

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