sábado, 30 de abril de 2011

ENCONTROS E DESENCONTROS, Sofia Coppola, por Laís Santos Araújo


Dois estranhos em uma das metrópoles mais vibrantes do mundo. Bob Harris (BIll Murray) e Charlotte (Scarlett Johansson) estão em Tóquio por motivos diferentes: ele para gravar um comercial de whisky; ela para fazer companhia a seu marido em uma viagem de trabalho. E, a príncipio, a única coisa que têm em comum, além da óbvia solidão compartilhada em encontros no bar do hotel em que estão hospedados, é a cidade.

Tóquio e sua infinitude de possibilidades contrasta com a solidão dos protagonistas, que apesar de acompanhados, sentem-se constantemente sozinhos. O tema "vazio na cidade grande", apesar de muito utilizado pela arte, é explorado de forma bela e sensível em Encontros e Desencontros. A cidade é retratada como os personagens principais a enxergam: exagerada, sem muito sentido. Coppola não se preocupou em explicar e dissecar a cultura oriental. Ela é entregue aos que assistem ao longa da mesma forma que Bob e Charlotte a vêem; com a impaciência de quem visita um lugar tão diferente sem um interesse genuíno. Como o título original propõe (Lost in Translation), as falhas de comunicação e as dificuldades de relacionamento que elas causam são o ponto central do filme.

As falhas de comunicação causam situações facilmente relacionáveis para quem já morou ou visitou algum lugar sem ter o conhecido da língua falada por lá. Algumas situações são sensíveis, delicadas. Outras são cômicas, como no momento em que Bob está gravando o comercial de whisky e não entende palavra alguma do que é dito pelo seu diretor. Quem assiste ao filme também se sente como Bob por alguns instantes, visto
que, propositalmente, não há legendas nessas situações cruciais.

Apesar de a solidão e a falta de interesse dos personagens principais ser notável, em certos momentos também existe a busca pelo Japão do imaginário, o Japão tradicional; porém Tóquio, altamente moderna e com bastante influência da cultura ocidental, nega isso a ambos. A diversão noturna que encontram é cheia de influências americanas, dos letreiros em neon às roupas e canções.

A metrópole agitada e ocidentalizada de um país como o Japão, conhecido por suas tradições (muitas vezes consideradas enigmáticas), é, enfim, o plano de fundo perfeito para a história de dois desconhecidos que dividem momentos e silêncios íntimos e encontram conforto na companhia um do outro, e que mesmo assim nunca deixam de ser, simplesmente, estranhos.

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