sábado, 30 de abril de 2011
"Gilda", por Jéssica Fantin
Diante da atuação de Rita Hayworth em Gilda, é compreensível que o filme seja um dos mais eróticos da história cinematográfica. Produzido pela Columbia Pictures em 1946, representa como poucos a “femme fatale” e até mesmo o roteiro, reconstruído diariamente por Marion Parsonnet e Jo Eisinger, possui uma atmosfera de sensualidade pungente através das frases criativas de duplo sentido. O clássico do cinema noir, dirigido por Charles Vidor, além da figura de Gilda, apresenta outros aspectos interessantes e típicos do “gênero”, como a temática dos crimes e a ambientação noturna das cidades.
“Se o seu marido fuma, não arrume briga pelo simples fato de cair cinzas no tapete, tenha cinzeiros espalhados por toda casa."
(Jornal das Moças, 1957). Tendo em vista que a submissão feminina, citada na publicação, era comum ainda no final dos anos 50, não há palavras para o impacto que “Gilda” causou em 1946. A imagem da mulher que posava para fotos fazendo assado no fogão novo (american way of life), não era nada semelhante à sua representação cinematográfica poderosa, manipuladora e extremamente sensual. A representação vista no filme contrapõe-se a uma visão sobre o sexo feminino vigente desde o início do século XX. Nesse contexto, a cena em que a personagem Gilda canta “Put the blame on mame” fazendo um strip-tease de luvas (segundo Freud, acessório que simboliza o desejo sexual) e o tapa que dá em Johnny Farrell (Glenn Ford) após uma briga, são exemplos da extrema ousadia que consagrou o filme.
Os elementos que identificam os “films noir” são tão distintos que não cabe uma análise meticulosa sobre o assunto. Diante da coletânea diversificada, no entanto, há uma base de classificação, certas semelhanças que “encaixam” o filme nesse movimento cinematográfico. Tal modelo é visto na trama extremamente instigante de “Gilda”, composta por alguns assassinatos no cassino de Buenos Aires e em certa obsessão masculina pela mulher. Outros pontos significativos do estilo noir no filme, são as narrações em “off” por Johnny Farrell, o já citado estopim da “femme fatale” e a evidente presença de sombras durante algumas cenas.
É interessante observar a relação entre a atmosfera visual e o enredo no filme. Por exemplo, a presença de sombras atrás de Johnny na cena em que é abordado pelo assaltante, após ganhar no jogo, e na passagem em que Ballin Mundson (George Macready) observa os lucros do cofre, remete à temática da trama, principalmente à ilegalidade do dinheiro que circula nos cassinos. Além de presente nos trechos citados, a sombra surge encobrindo completamente Ballin no momento em que percebe a “traição” de Johnny e Gilda, outra referência a um tema presente no filme.
Vale ressaltar a admirável fotografia realizada por Rudolph Maté, e o maravilhoso figurino idealizado por Jean-Louis (o vestido preto da interpretação “Put the blame on Mame” é lendário). Ainda assim, o maior destaque de “Gilda” dentre os pontos citados, é a maneira refinada com que se aborda a sensualidade feminina. A essência da mulher fatal que guia a narrativa é vista em diversos filmes posteriores, como: A dama de Shangai (1948), também com Rita Hayworth, As diabólicas (1954) e até mesmo o recente clássico Instinto Selvagem (1992).
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