sábado, 30 de abril de 2011

HOLLYWOOD LEARNS HOW TO TALK, por Pethrus Tibúrcio Cavalcanti da Silva



Em 28 de dezembro de 1895, os irmãos Lumière fizeram a primeira exibição pública de uma produção a partir de um cinematógrafo. Um dos 10 filmes que eles exibiram naquele dia era o Arrivée d’um train en gare à La Ciotat (A chegada do trem à Estação Ciotat), que mostra não mais do que sugere o título. A reação das pessoas foi correr.

Assim como em 1895, quase 40 anos depois, as pessoas ainda reagem com surpresa e ceticismo às grandes revoluções, inclusive tecnológicas. E é no meio de uma revolução que Cantando na Chuva se passa: quando Hollywood aprende a falar.

Numa época em que o cinema mudo já não atendia às necessidades do público, Gene Kelly e Jean Hagen formam o casal de cinema mais famoso da época: Don Lockwood e Lina Lamont. O filme explicita em Don a vida do artista da década de 20, saltimbanqueando de teatro em teatro, fazendo os mais criativos números de screwball comedy, e ganhando pouco no meio de uma crise econômica.

“Se viu um, já viu todos!” era o pensamento de muitos e citado no filme por Kathy Selden, a personagem de Debbie Reynolds. O filme mostra, sutilmente, os erros de produção do cinema da época e, com um toque de humor, mostra como havia uma dicotomia entre a expressão corporal e a conexão mental na atuação do cinema mudo, no brilhante momento em que Don expressa seu ódio à Lina durante a gravação de uma cena romântica.
Quando a Warner Bros choca a sociedade com O Cantor de Jazz, exibindo o primeiro filme – e musical – falado da história, a Monumental Pictures percebe que estava atrasada e seus maiores astros deixam de atuar em “O cavaleiro Duelante” e passam a ser personagens de “O Cavaleiro Dançante”. Ficou óbvio, depois de um tempo, que a seleção dos atores e roteiristas precisaria ser mais refinada. A então maior estrela da Monumental não sabia dançar, cantar ou sequer possuía uma voz digna de cinema. É onde entra Kathy Selden, com sua voz digna de Broadway e seu sapateado impecável.
Produto de um projeto sem grandes ambições, o filme foi uma espécie de greatest hits dos dois maiores compositores da MGM na era dos musicais: Arthur Freed e Nacio Herb Brown. Com um incontável número de canções de sucesso, veio a ideia de juntar as mais marcantes e, então, entregaram nas mãos dos roteiristas Betty Comden e Adolph Green que não quiseram as canções em números musicais elaborados e deram um conceito mais simplista e realista ao filme.

Ocupando o 1º lugar na Lista dos Maiores Musicais Americanos (AFI/2006), a verdade é que nenhum outro filme conseguiu se estabilizar na linha tênue entre a comédia e a emoção tão bem quanto Cantando na Chuva. No mesmo tempo que o filme exalta a necessidade do “Make ‘Em Laugh” – que era o ganha-pão dos artistas, principalmente de teatro, da época – ele toca o coração com “You were meant for me” e, principalmente, “Singing in the Rain”.

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