sábado, 30 de abril de 2011

"Sangue de pantera", por Lucas Freire Rafael



Quando você vai ao cinema ou locadora e encontra a classificação “Film Noir”, no mínimo você espera encontrar no filme alguns traços estilísticos e narrativos normalmente encontrados no gênero. Um deles, e bem possível, o mais famoso é a presença da personagem conhecida como Femme Fatale. Pois então, depois de assistir alguns filmes do gênero, ocasionalmente ou não, senti um pouco a falta da Femme Fatale que imaginava está presentes nesses filmes. Eis então que surge a oportunidade de assistir Cat People (1942) ou se preferir Sangue de Pantera, e então pude falar com todas as letras “agora sim, uma digníssima mulher fatal”.

O filme, dirigido por Jacques Tourneur, narra a triste história de Irena, uma moça solitária oriunda da Sérvia que trabalha e reside em Nova York. Sua aparente solidão é mantida como um mistério até parte do filme. Esse mistério passa a se dissolver quando ela conhece e, cenas depois, se casa com Oliver. O motivo para tanto mistério então é revelado: Irena teme que ela descenda de uma linhagem de moças de seu país que foram marcadas por uma terrível maldição. Esta praga lançada sobe essas mulheres faz com que, quando abaladas emocionalmente, irritadas ou até excitadas sexualmente, se transformem em uma pantera. Pantera esta que ataca ferozmente ou indivíduo que a irritou ou a pessoa que a excitou. Sucinto, não?

E porque então a Irena, seria uma exemplar Femme Fatale? Um tanto óbvio, correto? Todas as outras mulheres fatais que vi em outros filmes, pouco tinham de cruéis, brutais ou nesse caso, literalmente fatais. Irena, por sua vez, também se enquadra noutro patamar: ela inicia a trama como uma protagonista e no decorrer da história, se torna a antagonista. Obviamente a razão quase sempre é a mesma, o amor! O marido dela, Oliver, começa a se apaixonar por outra moça e da metade em diante do filme, os esses dois se tornam os “heróis” perseguidos pela agora, vilã-pantera.

Além dessa inversão de papéis no filme, Jacques Tourneur inicia um dialogo entre dois gêneros, o Film Noir e o horror/suspense, o qual repeteria noutras obras futuras. As poucas cenas exteriores vislumbram uma cidade deserta e bastante escura (tipicamente Film Noir). E em uma delas, a que Alice (a mais nova companheira de Oliver) é supostamente perseguida por algo ou alguém numa rua quase sem fim, apenas pontuada por postes que pouco iluminam, retrata fielmente uma digna cena de suspense/horrror.

Irena, como pantera, passa então a atormentar os novos protagonistas da história e transformam todo o clima pseudo-alegre do início, em um filme de perseguição sombria. Mesmo como antagonista, a personagem de Irena transparece algo que, pelo menos a mim, encantou. Talvez o sua triste maldição, ou talvez sua torturante causa (a perda de um grande amor) faça com que sua brutalidade e seu instinto assassino sejam esquecidos e faça com que o ali enxergado sejam apenas o infortúnio destino de Irena, o de nunca puder amar alguém. Eis então, o triste fim da pantera.

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