sábado, 30 de abril de 2011

No Silêncio da Noite (1950), por Victor Ryan Borges


No Silêncio da Noite (1950) de Nicholas Ray é o que podemos chamar de um filme atípico.Apesar de ser considerado por alguns um filme de drama ele é um Noir que mistura diversas características dos dois gêneros se é que podem ser assim chamados criando um resultado inusitado.

O cínico personagem interpretado por Humphrey Borgart é em si um primeiro grande diferencial do filme. Conhecido pelo nome de Dixon Steele, ele é um roteirista de Hollywood sofrendo writer’s block, é paranóico e tem sérios problemas de temperamento. Já em sua ocupação vemos que este Noir não segue a “regra” máxima do gênero onde o personagem principal é um investigador privado ou da polícia.

Logo na primeira cena do filme vemos Dixon tentando arrumar confusão com um desconhecido no transito, já assim mostrando ao público como ele é. A história então começa a se desenvolver a partir daí. Ele segue para um encontro com seu agente e um diretor onde então lhe oferecem a oportunidade de adaptar um livro. Como o mesmo precisa trabalhar ele aceita sem pensar muito e pede a ajuda de Mildred Atkinson, uma secretária que estava no mesmo local que ele para lhe contar a história do livro porque ele está com preguiça de ler. Dixon a leva para sua casa claramente com outras intenções, que apesar de tudo acabam sendo abandonadas depois que a mulher conta a história do livro fazendo com que ele fique cada vez mais impaciente e indisposto.
Outro ponto importante é que logo quando Dixon chega com Mildred ele esbarra em Laurel sua vizinha e a tensão sexual que existe entre os dois é clara. Sua atenção esta muito mais voltada para a sacada de Laurel do que para Mildred enquanto a mesma conta a horrível história que ele se comprometeu em adaptar.

Ele então lhe dá o dinheiro para um taxi e Laurel vê os dois se despedindo. Na manhã seguinte Dixon é informado que a jovem foi assassinada e ele é o principal suspeito. Apesar de tudo isso Dixon não consegue conter seu cinismo e frieza deixando assim o
chefe de policia ainda mais desconfiado da sua inocência.

Os policiais chamam Laurel, para depor e ela conta tudo que viu, inocentando assim Dixon. Laurel não é o que pode ser chamada de femme fatale original, ela está mais para o papel de anjo salvador para Dixon, apesar de tudo ela conta com uma personalidade forte e é extremamente decidida. Dixon fica apaixonado e acaba engatando um relacionamento com ela e tudo parece ir às mil maravilhas. O bloqueio criativo desaparece, assim como as brigas sem sentido. Laurel se torna sua musa e salvadora, tomando conta de tudo na vida dele, desde datilografar as páginas do roteiro a preparar o café da manhã. Ela também alimenta grandes sentimentos pelo menos dizendo diversas vezes que o ama e não tem dúvidas quando a inocência dele.

Claro que este cenário não iria durar muito. Laurel é então chamada mais à delegacia. Ela fica nervosa por desconfiarem de Dixon e a sombra da dúvida começa a ser crescer em sua mente, o clima de paranóia tão presente nos filme Noir desde período então começa a ficar cada vez mais evidente.

Chega o momento então que Dixon estoura de fúria devido a um comentário da mulher de seu amigo e sai vagando pela noite, retornando as suas origens em busca de confusão. Ele acaba espantando um jovem motorista da na estrada, chegando muito perto de cometer um assassinato. Este comportamento errático faz com que Laurel acabe certificando-se de que ele é um assassino. Ela então decide fugir, mas é tarde demais, Dixon acaba então lhe propondo em casamento.

No que toca ao final do filme, em terminado momento Dixon acaba tornando-se ainda mais violento, a ponto de se tornar um perigo para aqueles em volta dele. No clímax das revelações ele acaba chegando muito perto de assassinar Laurel para só então ser inocentando por uma ligação telefônica.

Entretanto é tarde demais, este é um final trágico, sombrio. Mostra a todo mundo que o amor não supera todas as adversidades, que quando a sombra da dúvida é plantada o mesmo pode acabar não florescendo.

Essa, segundo dizem, era uma visão de mundo do próprio Nicholas Ray, um homem que vivia no meio de tudo isso, da jogatina, drogas, álcoo e femme fatales, em suma um homem que vivia afundado no próprio universo que ele expunha nas telas de cinema. Também se especula que o temperamento do Dixon era inspirado no do próprio Ray que sempre estava envolvido em brigas com estúdios e pessoas da indústria.

O filme não toca no tema da Cidade como personagem, onde existem vícios e perigos a cada esquina, pelo menos não de forma clássica. É possível que o espectador assista No Silêncio da Noite e nem note algumas locações que fazem parte do estilo L.A, como a delegacia, praia ou o conjunto de apartamentos em que vivem os protagonistas, apesar de todos esses elementos estarem bem presentes em filmes do gênero. O que é mais interessante para Ray é mostrar como agiam alguns personagem da Hollywood daquela época, com agentes, atores fracassados e roteiristas a beira de um ataque de nervos por não conseguirem mais trabalhar no pós Segunda Guerra Mundial. É um filme muito mais movido pelos seus personagens e dramas pessoais do que maquinações de plot muito comuns na maioria dos outros Noir.

Também é necessária uma menção ao título original do filme, “In a Lonely Place”, que não apenas é dita numa frase em determinado momento do filme, mas é também em si uma afirmação sentimental de onde se encontra o personagem de Bogart no decorrer de sua vida e ao final de seu breve amor.

Após todo este panorama é possível afirmar que mesmo não sendo um Noir tradicional, No Silêncio da Noite acabou ainda assim tornando-se um dos filmes de maior referencia para o gênero e pro seu diretor.

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