segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

"Uma abordagem histórica da Melancolia: Dürer e Lars Von Trier", por Lorena Arouche


Este trabalho visa traçar paralelos estéticos comparativos entre duas obras de arte que abordam a temática e se intitulam Melancholia,. A primeira obra, uma tela do alemão Albrecht Dürer que viveu nos séc. XV e XVI, Melancholia I. A segunda obra, um filme, contemporâneo, de 2011, dirigido pelo dinamarquês Lars Von Trier, Melancholia. Ambos se correlacionam no tempo e no espaço, ao tratar de um tema tão antigo quanto a própria civilização. O filme possui referências claras e diretas a uma vasta gama de telas de artistas, tais como: Malevich, Waterhouse, Brueghel, Bosch, etc. através da exposição direta de algumas telas, ou mesmo pela revisitação, releitura das outras.

Etimologicamente, a palavra melancolia, em grego, significa bílis negra. O grego Hipócrates, de 406 a 377 a.C, considerado o “pai da medicina”, fundou a teoria dos quatro humores corporais: sangue, fleugma, bílis amarela e bílis negra. Quatro humores corporais, como são quatro as estações, os pontos cardeais, os elementos e as qualidades fundamentais: calor, frio, quente e úmido. Na teoria humoral hipocrática, o equilíbrio da vida seria atingido pelos quatros humores, respectivamente representados pelos seguintes órgãos do corpo humano: coração, sistema respiratório, fígado e baço. O desequilíbrio gerado pela predominância de um desses quatro humores classificaria o indivíduo em tipos fisiológicos: o sanguíneo, o fleumático, o colérico e o melancólico. A melancolia, segundo Hipócrates, teria influência de Saturno, que seria o responsável por escurecer o humor e a alma do indivíduo, provocando nele a secreção excessiva de bílis negra, fria e seca. Contudo, não há, concretamente, vestígios dessa substância até hoje, nos organismos do ser humano. A teoria dos humores é um marco histórico, pois a ciência biológica começa a se sobrepor ante a mitologia através do início de uma observação clínica mais contundente.

Hipócrates no séc. V a.C assim diagnosticava a melancolia: uma afecção sem febre, na qual o espírito triste permanece, sem razão, fixado em uma mesma idéia, constantemente abatido. E cujos sintomas eram citados: perda de sono, falta de apetite, desejo de morte, falta de entusiasmo, etc.

O tratamento proposto, na antiguidade, consistia em mudanças na rotina alimentar, medicamentos orais, ervas catárticas e purgantes que eliminassem o excesso de bílis negra do organismo.
Existem indícios de melancolia em passagens da bíblia, como em I Samuel, 8 - 15, que narra a história do primeiro rei de Israel, Saul, ungido pelo sacerdote Samuel e que, por desobediência às ordens do Senhor intermediadas pelo sacerdote, perde seu trono para Davi e é acometido por um “mau espírito”, enviado por Deus, considerado posteriormente doença, a melancolia do rei. A culpa pela transgressão, pela desobediência, torna o rei vulnerável ao “mau espírito”, ou melancolia que apenas é acalmada ao som da cítara de Davi. Entretanto Davi, torna-se seu alvo e, por habilidade e destreza, lhe escapa e traça sua trajetória pessoal ao trono. Saul, derrotado, não vê outra alternativa a não ser o suicídio.

Aristóteles, em seu problema XXX, questiona: Por que todos os homens que foram excepcionais no que concerne à filosofia, à política, à poesia ou às artes aparecem como seres melancólicos, ao ponto de serem tomados pelas enfermidades oriundas da bílis negra - como o que se diz de Hércules nos mitos heróicos?

Na proposição acima, Aristóteles considera que todo o homem excepcional é melancólico, universalizando seu objeto de estudo e interrogando qual seria a derivação desse propósito, ou seja, por que isso acontece?

Diferentemente de Hipócrates, não aborda o temperamento melancólico, a princípio, mas as doenças que acometem os melancólicos. No caso de Hércules, referindo-se aos seus excessos de crises epilépticas, úlceras, fúria contra os filhos, etc. o comportamento é conseqüência de suas dores físicas –úlceras, feridas e de situações mentais - loucura, cólera.

Aristóteles apresenta ainda outros exemplos e, em qualquer um deles, esses homens, considerados excepcionais, apresentam-se com comportamentos que a medicina antiga julga relacionados às doenças do humor melancólico.

O filósofo faz a seguinte diferenciação: seres humanos normais podem ser arrebatados pela melancolia, porém ao gênio existe uma predisposição natural, ou a doença advém da natureza (physis) congênita da própria bílis. Tal qual o vinho que possui a característica de atuar sobre a mente, a própria bílis negra do gênio atuaria de forma correspondente naturalmente.
Physis é, desde os filósofos pré-socráticos, o princípio que comanda tudo que existe. A palavra possui dois sentidos principais que se co-relacionam: o de natureza universal, no qual é o princípio de tudo; e o de natureza particular, no qual é a essência de cada coisa.
“Para Aristóteles, a physis é a causa originária dos seres sujeitos à mudança e ao tempo, ao devir. A physis não é apenas a natureza dos corpos ou das coisas materiais, mas também a da alma ou psichê, visto que a physis é a natureza de todas as coisas que estão no tempo ou que duram e que mudam ou se transformam.” (Chauí Berlinck, Melancolia: Rastros de dor e de perda, 2008-38)
Nessa medida, os gregos, notadamente Aristóteles, interferem e influenciam a medicina apresentando uma relação indissociável entre corpo, mente (psichê) e alma.
Dessa forma, a melancolia, a partir de Aristóteles, começa a ser melhor compreendida como uma doença relacionada ao desequilíbrio não mais de fluidos corporais, mas de alma e corpo.
Convém mencionar outra distinção proposta pelo filósofo entre o que é fruto da natureza e que é fruto do acidente: como fruto da natureza, algo se deve à sua própria existência, sua physis, enquanto o fruto do acidente advém de causas externas. Podemos entender assim, segundo Aristóteles, que a melancolia pode ser fruto da physis do homem, constituindo-se de alguma forma parte de sua essência, bem como pode ser conseqüência de sua relação com o meio e das influências que esse meio lhe causa. Em outras palavras, todos podem ser afetados acidentalmente pela melancolia, contudo, os indivíduos imbuídos dela por natureza de sua physis são atingidos de uma maneira diferente.

Outra questão também relevante se dá através do entendimento da livre vontade, da escolha entre o virtuoso que possui o bem como finalidade, e o vicioso, que não possui o bem como finalidade. Para o filósofo grego, a physis determina o ethos que são os sentimentos, atitudes éticas. Assim, a melancolia, nosso objeto de estudo, tanto pode implicar em virtudes ou vícios.
O Cristianismo modificou radicalmente a forma como as doenças mentais eram entendidas na Idade Média. A melancolia passou a ser considerada extremamente nociva por ser considerada uma apatia e indiferença frente ao divino, ao sagrado que deveria supostamente encher os corações de glória e fé. Os medicamentos químicos foram combatidos por entrar em conflito com os dogmas religiosos. O tratamento para os melancólicos resumia-se ao confinamento do doente, afastado de todos para a execução de trabalhos manuais.

No início da Idade Média, outro termo apareceu para designar melancolia, a akedia, que, em grego, significa indiferença. Os sintomas eram: abatimento do corpo e da alma, inércia, indisposição, etc. Diagnosticada nos mosteiros, era atribuída à solidão tanto quanto às tentações da carne.

Na época da Inquisição, a melancolia era considerada pecado, como a gula, o sexo, a inveja e a cólera. Em alguns casos mais discretos, a melancolia era tolerada por ser compatível com a vida monástica.

Com o renascimento, e a retomada do cientificismo, do racionalismo científico, os filósofos gregos foram revisitados. Marsilio Ficcino, filósofo italiano, considerava a melancolia por acidente, como uma manifestação do anseio humano com relação à eternidade. Ele reforça a idéia de Aristóteles de que todo gênio é melancólico por essência, naturalmente (physis). Já na Inglaterra, a melancolia foi compreendida como influência de “anjos maus” que se “intrometiam” nos humores dos sensibilizados, porém os mesmos eram destituídos de qualquer culpa por isso.
Albrecht Dürer, séc XV, foi entre outras coisas, pintor e ilustrador alemão. Humberto Eco considera sua obra Melancolia I um emblema da época, na qual a melancolia se encontra com a geometria e adquire alma, enquanto a melancolia se apropria do racionalismo pleno, fazendo imergir a beleza melancólica.

Na obra de Dürer, vemos em primeiro plano, um anjo, melancólico, entediado, costas curvadas, mão no queixo, cabeça inclinada, olhar perdido, em direção ao chão, de “asas caídas”, à espera de algo, de mudança.

O escritor brasileiro Moacir Scliar, em Saturno nos Trópicos, 2003 – 82-85, faz a seguinte análise da obra de Dürer.

“A Melancolia, na gravura, é representada como uma mulher de asas potencialmente capaz de altos voos intelectuais. Mas ela não está voando. Está sentada imóvel, na clássica posição dos melancólicos, com o rosto apoiado em uma das mãos (...) a cabeça lhe pesa, cheia que está de mórbidas fantasias. Os músculos da nuca, que deveriam manter erguida aquela cabeça, de há muito cansaram. No ansioso esses músculos estão sempre tensos; é uma tensão arcaica, a mesma que faz o herbívoro erguer a cabeça, alarmado quando fareja um carnívoro. Na Melancholia I, às voltas com demônios interiores, a ameaça externa, real ou imaginária, não importa muito. Permanece imóvel como se lhe faltasse ânimo para movimentar-se ou (...) a figura encontra-se em intenso transe visionário(...).Sua fronte está coroada com plantas aquáticas destinadas a combater a secura que, como vimos, é uma das características dos melancólicos.

Junto à Melancolia, um cão adormecido. Dizia-se então que o organismo do cão é dominado pelo baço (...). Na gravura ainda há uma profusão de objetos usados no cotidiano, em vários ofícios e na ciência.: uma balança, uma ampulheta, uma sineta, martelo, serrote, pregos. Aparentemente eles não estão ali para serem usados; ao contrário, sugerem imobilidade - a mesma imobilidade que transparece na própria Melancolia e no sono do cão. O tempo está congelado: os dois compartimentos da ampulheta contém a mesma quantidade de areia. Uma tábua numérica cujos números somados dão sempre o mesmo resultado, na horizontal ou na vertical - uma alusão à geometria, muito valorizada então como fonte de conhecimento não apenas teórico. As chaves na cintura e a bolsa no chão - chave significa poder e a bolsa, riqueza. Estas são anotações do próprio Dürer.
Ela tem tudo isso, mas falta disposição para ir em busca de novos espaços. A bolsa remete à avareza característica tradicionalmente atribuída aos melancólicos. Aliás, a Melancolia se apresenta com o punho cerrado, o PUGILLUM CLAUSUM que até hoje é um símbolo clássico da avareza. Walter Benjamin chama a atenção para a pedra. Dura e fria, é um símbolo da melancolia e da loucura também. No final da Idade Média havia um procedimento para tratar os loucos: fazia-se uma incisão no crânio do doente 'abrindo-lhe' a cabeça. Depois era lhe apresentar uma pedra supostamente dali retirada, a pedra 'causadora da loucura'. Daí veio a expressão louco de pedra."

Walter Benjamin, em seu estudo sobre o drama barroco, tece e agrega considerações importantes à teoria da melancolia, referindo-se a noções antigas e medievais, tais como: Aristóteles, planeta Saturno, deus Cronos e à bile negra. O filósofo associa a melancolia à noção de perda e de desinteresse pela vida. Segundo Benjamin, a melancolia pode relacionar-se historicamente como reação ao acúmulo de catástrofes, a um estado geral de perda. A história, sob a ótica Benjaminiana, é marcada pela humilhação e morte de inúmeros seres humanos e dessa forma só pode ser avaliada melancolicamente.

Para o filósofo alemão existe uma relação entre a postura melancólica e o pensamento contemplativo. A bílis negra seria a responsável pela motivação do espírito conduzindo-o a contemplação. O anjo contempla o passado e, horrorizado com o que vê, torna-se melancólico. Tal descrição refere-se à obra Angelus Novus de Paul Klee, entretanto pode ser também aplicada à Melancolia I de Dürer. Há ainda outra possibilidade de conexão entre as obras: sobre o prisma Benjaminiano, em Dürer, os objetos e utensílios estão dispersos no chão, sem serventia; em Angelus Novus, as ruínas estão dispersas no chão, aos pés do observador, como conseqüência de acontecimentos trágicos.

A contemplação melancólica não se restringe ao passado. Existe uma relação direta inegável entre passado e presente, pois, o tempo que escreve a história é “saturado de ágoras”. ( Benjamin, Origem do drama trágico alemão, tese XIV, 2004)
Albrecht Dürer teria representado os quatro humores hipocráticos em sua obra os Quatro Apóstolos, em mil quinhentos e vinte e seis, na qual cada humor teria sua equivalência a um determinado apóstolo: São João, o melancólico; São Pedro, o sanguineo; São Paulo, o colérico e São Marcos, o fleumático.

Em Hamlet, Shakespeare mostra a melancolia como essencial para a sabedoria e básica para a loucura.

Robert Burton reúne, de forma complexa, as idéias de Hipócrates, Aristóteles, personagens de Shakespeare e experiências pessoais relacionadas à melancolia.

Com o início do séc. XVIII e o Iluminismo, Descartes fundamenta a verdade no sujeito. Questionamentos acerca das influências entre mente e corpo começam a permear o cotidiano moderno.

Na idade da razão, os sem razão são marginalizados. A loucura é associada à ociosidade, que perturba a ordem moral e social.

No romantismo, a melancolia volta a ser cultuada, desejada. A apreciação do sublime, em Kant, estava quase sempre associada à melancolia. Kierkegaard entende a humanidade como melancólica, e não apenas o indivíduo. Quando Nietzsche declarou que Deus estava morto e que nós o matamos, essa ferida narcísica gerou, na humanidade, conflito psicológico suficiente para insuflar uma melancolia aristotélica acidental que perdura até os dias atuais.

Para Freud, a melancolia, pode constituir uma reação à perda, assim como o luto. Considera no estado melancólico em que o ego se torna pobre e vazio. A tendência do melancólico apresenta sensação de perda de libido, complexo de inferioridade e diminuição da auto-estima. O melancólico tem uma tendência à autocrítica exagerada, descrevendo-se como avarento, egoísta, incapaz, carente de independência.

Segundo o filósofo italiano Giorgio Agamben, nos textos de Freud referentes à melancolia, ainda se percebem vestígios da medicina humoral. Contudo, o fato da melancolia vir a ser considerada um transtorno mental grave indicaria a dissociação desse comprometimento.

O cineasta dinamarquês contemporâneo Lars Von Trier, lançou, em maio de 2011, sua mais recente produção, a película intitulada Melancolia que faz inúmeras referências tanto ao comportamento histórico do melancólico, neste trabalho já bastante descrito, quanto a obras plásticas algumas das quais já citadas aqui, como a própria Melancholia I de Durer.

A Melancolia de Lars Von Trier inicia-se com um prólogo que antecipa fragmentos das cenas do devir, uma espécie de stop motion e slow motion que também remetem a quadros, obras de artes vivas, na iminência de serem capturadas pelo “artista”, bem como composições surreais de cenas, em aproximadamente oito minutos equivalentes ao tema musical completo do filme, o Prelúdio de Tristão e Isolda de Wagner.

A primeira referência relevante é a própria inserção da obra de Brueguel, Os Caçadores, que se desmaterializa para simbolizar o desmoronamento de uma identidade humana fragilizada, desacreditada, à semelhança das ruínas físicas e espirituais do período vivenciado pelos contemporâneos de Brueguel e Dürer nos séculos XV e XVI, com o advento do renascimento pós Peste Negra e Guerra dos Cem anos que, por analogia, poderia muito bem equivaler ao passado, às ruínas que causam a contemplação do anjo segundo Benjamin.

Na imagem seguinte, vemos o planeta Melancolia em rota de colisão com a terra. Além de remeter à aproximação do fim do mundo, a uma sensação de inutilidade, indiferença, de falta de sentido, tais como os objetos que cercam o anjo de Dürer, metaforicamente, é uma alegoria à influência de Saturno sobre os melancólicos e alude ao planeta que também se anuncia na Melancholia de Dürer.
Ainda no prólogo, observa-se mais uma clara referência, dessa vez à Ophelia de Waterhouse, na qual Justine aparece vestida de noiva, afogada, à semelhança da Ofélia desiludida, melancólica, suicida.

O filme narra a vida de duas irmãs protagonistas: Justine e Claire. O filme se divide em duas partes que levam os nomes de ambas, respectivamente. No início do filme, Justine – Kirsten Dunst - aparece extremamente feliz com seu noivo Michael – Alexander Skarsgard- em uma limosine, em direção à festa do seu casamento que está sendo realizada na mansão de sua irmã Claire – Charlotte Gainsboug. Nesta primeira parte do filme, através da festa do casamento, Lars Von Trier apresenta não apenas todo o espaço no qual a ação do filme inteiro irá se realizar, bem como todos os personagens e seus dramas. Justine, uma mulher aparentemente feliz, amorosa com seu noivo, durante a festa, começa a demonstrar traços de “perturbação mental”, melancolia, pontuados a partir do materno e, a posteriori, nos será informado que outras crises anteriores ocorreram, com as quais a irmã-mãe Claire acredita-se capaz de lidar. Justine é a primeira pessoa a se sentir influenciada pelo planeta Melancholia que se aproxima e seu comportamento se modifica constantemente, especialmente, quando está ao ar livre, no lado exterior da mansão, quando tende à contemplação. Ela sente medo, ela sabe sobre algo extraordinário, tenta conversar com seus pais, em vão. Sua aparente fraqueza, sua melancolia, é sua sensibilidade e vai também se tornando sua fortaleza.

Após um determinado diálogo entre as duas irmãs, Justine sente o impulso de trocar as páginas dos livros de arte expostos nas prateleiras de uma cômoda da casa, com obras geométricas, suprematistas de Malevich por obras já citadas como: Brueghel – Os caçadores, Waterhouse – A Ophelia, as demais são: Caravaggio – Davi e Golias, Brueghel – A cocanha e Bosch – parte de Os Jardins das Delícias terrenas.

Afora o quadro de Dürer, no séc XVI existem mais três chamados Melancholia, todos de Cranach. No terceiro, o anjo Melancholia está afiando um graveto, gesto que aparece no prólogo e também, posteriormente, imitados por Leo e Justine, quando estão construindo a caverna mágica.
A proximidade do planeta, primeiramente, mexe com os humores de Justine e de Abraham – o cavalo e, conseqüentemente, com todo o equilíbrio natural. Claire, a partir de então, demonstra sintomas do comportamento melancólico contemplativo.

Claire, a mulher aparentemente forte, a mãe, controladora, no decorrer do filme, vai se mostrando cada vez mais frágil e incapaz de lidar com o fim. Para ela, a melancolia é tão acidental como o acidente do Melancholia com a terra, e, através dela, sentimos a inutilidade dos objetos, do dinheiro, ante ao fim trágico. Seu filho, Leo, simboliza a ingenuidade, a inocência; como não entende o que está acontecendo, a ignorância evita seu sofrimento e o mantém forte até o fim.

Este trabalho, cujo objetivo foi abordar o tema melancolia presente em duas grandes obras visuais de referência, Melancholia I de Dürer e o filme Melancholia de Lars Von Trier, identificou alguns elementos, signos e estabeleceu algumas associações que vão muito além dessas duas obras, reverenciando suas correlações e sua importância inseridas no contexto da estética da melancolia através dos tempos.


Referências:

- ECO, Umberto. História da Beleza. Tradução de Eliana Aguiar. Rio de Janeiro: Record, 2010.
- CHAUI BERLINCK, L. Melancolia: Rastros de dor e de perda. São Paulo: Editora Humanitas, 2008.
- SCLIAR, Moacyr. Saturno nos trópicos: a melancolia européia chega ao Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
- FREUD, S. Luto e Melancolia. in Obras Completas, Rio de Janeiro: Imago, 1917.
- AGAMBEN, Giorgio. Estâncias. A palavra e o fantasma na cultura ocidental. Tradução de Selvino Assmann. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2007.
- BENJAMIN, Walter. Origem do drama trágico alemão. Tradução de João Barrento. Lisboa: Assirio e Alvin, 2004.
- GONÇALES, Cintia Adriana Vieira; MACHADO, Ana Lúcia. Depressão, o mal do século: de que século? Revista enfermagem. UERJ;15(2):298-304, abr.-jun. 2007.

2 comentários:

Anônimo disse...

Tema interessante e abordagem ótima! Muito bom!

Anônimo disse...

Tema interessante e abordagem ótima! Muito bom!