segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

"Bertolucci, 'Os sonhadores' e um olhar crítico para o passado", por Nathalia Pereira




[on making The Dreamers (2003)] “It gave me the chance of visiting a moment that I really loved a lot, the late 1960s. It was a kind of magic moment in many senses. There was a fantastic projection of the future, of utopias, which were very noble in some ways. I remember being young in the 1960s. We had a great sense of the future, a great big hope. This is what is missing in the youth today. This being able to dream and to change the world.” Bernardo Bertolucci.

Aos 64 anos (em 2003), a maneira que Bernardo Bertolucci encontra de visitar a juventude vivida por ele - entre as revoluções mundiais políticas e ideológicas do final dos 60 - é expressar as memórias em cinema.  Faz isso de forma crítica, avaliando, por meio de três personagens chave, a postura tomada por parte dos jovens daquela época, que iam às ruas para lutar por liberdade, mas continuavam dependendo dos pais para organizar suas vidas.
Os sonhadores são os protestos, os ideais e a cultura da França de 68 analisados pelo olhar do estrangeiro (que também pode ser visto como o Bertolucci já velho, lançando olhar para sua juventude). A chegada do americano Matthew a Paris, pouco antes do desencadear do clamor popular que levou milhares de jovens às ruas em busca da ampliação de direitos, é filmada ao som de Jimi Hendrix. O jovem é influenciado pelos ideais pacifistas hippies e chega à Europa contagiada pela força de ideologias comunistas que, em algumas frentes, incentivavam a revolução por meio da violência. O conflito entre as duas visões revolucionárias permanece durante todo o filme.
Depois de conhecer um casal de irmãos franceses e de se apegar a eles pela cinefilia em comum, há uma tensão entre o que Matthew defende e as visões de mundo dos gêmeos Isabelle e Theo. O americano vivido por Michael Pitt narra a história, como se interpretando suas memórias. O olhar de Matthew se confunde com a revisita de Bertolucci a suas memórias da época e mistura fascínio com a crítica de uma mente mais madura do que a dos inseguros Isabelle e Theo. A inocência revelada pelos protagonistas pode ser interpretada como uma análise do diretor sobre a própria geração.
Embora aponte a falta de coerência no discurso da juventude revolucionária, o filme não deixa de ser um elogio à esperança contida nas ideologias defendidas pelos jovens sessentistas. A mistura de referências culturais e políticas presentes no filme, assim como na análise que Pam Cook faz dos filmes In the mood of Love e Far from Heaven, acentua o caráter nostálgico das imagens apresentadas, a partir das constantes representações e exibições de cenas de filmes consagrados. A trilha sonora também é elemento que surge no filme como elogio a ícones da música dos anos 60, como The Doors, Janis Joplin, Bob Dylan, Jimi Hendrix.
 A visita ao passado parece ser impulsionada pela vontade de entender por quais projeções do futuro feitas pelos jovens de 68 (incluindo o diretor) não resultaram o esperado. Enquanto diz acreditar que falta aos jovens de hoje a esperança e a vontade de lutar que se tinha há 40 anos, Bertolucci apresenta um maio de 68 pouco idealizado para um nostálgico, mas, ainda sim, saudoso. Sabe que o passado de que se sente falta não é perfeito, e, em contrapartida, tenta resgatar a sede pelo combate que aqueles jovens tinham e que, segundo ele, não existe mais.   
“There was a fantastic projection of the future”, diz o idealizador do filme a respeito daquela geração.

Um comentário:

Unknown disse...

É um grande filme. Novamente Bertolucci ocupa o padrão cinéfilo entre sexo e política. Os Sonhadores é uma história interessante e cativante amor diretamente ligada ao contexto político-cultural aconteceu na primavera de '68 tumultos na cidade de Paris, capturando perfeitamente cenários e ambientes. Uma fita sedutor, com um grande elenco sobre todos os atores de cinema Eva Green (Isabelle) e Louis Gardel (Theo), surpreso com a simplicidade e graça encarnado quando alguns personagens e complexo coloridas, como Michael Pitt, que, completando o trio, e ao abrigo de um apático, alucinado enquanto aparentemente atira trabalho com interpretação meticuloso, embora às vezes um pouco inútil. No geral, é um drama de amor cheio de ideais e descobertas que adora o cinema.