segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
"À Deriva: a nostalgia de Heitor Dhalia", por Matheus Costa Ferreira
É muito comum a produção de audiovisuais com conteúdos autobiográficos por parte dos roteiristas e diretores. Com o diretor pernambucano Heitor Dhalia, não foi muito diferente. Apesar dele já ter assumido anteriormente em entrevistas que não se trata de um filme autobiográfico, o texto do filme “À Deriva” apresenta muitos aspectos familiares com a sua infância como ele complementa na entrevista, portanto de uma forma ou de outra, há uma certa nostalgia por sua parte que acaba possuindo o filme e contagiando aos telespectadores. As pessoas em geral, levam muito de sua infância para o resto da sua vida, no caso daquelas ligadas à arte e comunicação, normalmente, trarão traços do seu passado nos seus projetos e trabalhos, possuindo-os com essa carga nostálgica.
“À Deriva” é um filme recente, lançado em 2009 que conta a história do fim de um casamento do ponto de vista de uma adolescente, a filha mais velha do casal, Felipa. Interpretada pela novata Laura Neiva, esta protagonista cria uma sensibilidade incrível na narrativa. Com seus 14 anos, Felipa viaja de férias para uma praia com sua família – seus pais e seus dois irmãos; é então quando começa a descobrir que seu pai trai a mãe com uma estrangeira que tem uma casa na mesma praia. Diante desta descoberta, Felipa parece confusa e perdida, e começa a perceber as brigas e incompatibilidade de seus pais, ao mesmo tempo em que vai descobrindo sua própria sexualidade.
Heitor Dhalia revela na entrevista já citada que viveu por 20 anos na praia e que seus pais se separaram quando ele tinha a mesma idade da personagem Felipa. Como ele mesmo fala: “Não é um filme autobiográfico, mas é fortemente pessoal”. É um filme nostálgico principalmente por causa disso, Heitor, com certa sutileza quer mostrar seu passado de uma forma um pouco diferente, não sendo assim uma nostalgia restauradora e sim uma nostalgia reflexiva.
Estes conceitos de nostalgias restauradora e reflexiva tratam-se de pensamentos opostos sobre o modo de demonstrar o passado na arte. A primeira, tem a intenção de remontar o passado da mesma forma original, sem mudar nada, em certos casos pode forçar um certo conservadorismo e uma rejeição do presente. Do outro lado, a nostalgia reflexiva, pensa em como algo do passado pode ser usado no presente de forma útil, como fazer alguma crítica a algo do presente ou até mesmo do passado e que continua a ocorrer até os dias atuais.
Não é só por aí que acabam seus traços nostálgicos. O fato do filme se ambientar na década de 80 ainda traz muito mais aspectos saudosistas, por ouvirmos algumas musicas daquele período, ver um tempo diferente, em geral, com tecnologias diferente e etc. Além do mais é um filme que tem um roteiro muito realista, uma história que pode acontecer com qualquer pessoa muito facilmente, e que realmente, aconteceram muitas histórias muito próximas a esta no passado de muita gente que assiste o filme e automaticamente há uma identificação com a história e os personagens. A fato de ainda se focar num ambiente infantil, ainda aumenta esta identificação de modo mais sutil, através das brincadeiras, do primeiro beijo, certo tipo de coisas que todo mundo já passou.
O filme ainda tem uma ligação intensa com a fotografia. A fotografia se caracteriza por ser um elemento de forte nostalgia a nos depararmos com nosso passado impresso, ou como é mais comum hoje, digitalizado em uma tela. Esta ligação está presente tanto nas imagens já fotografadas que os personagens observam no filme, como quando olham para uma foto e se lembram da época em que eles eram uma família feliz. Ou nas fotografias que eles gostam de tirar dos momentos. No final do longa, por exemplo, podemos ver as fotos que foram tiradas com a câmera pelos próprios personagens do filme no filme.
Heitor Dhalia ao fazer “À Deriva” o preencheu com várias características nostálgicas, criando um filme muito humanizado e saudosista, que dá uma leveza e sensibilidade nas cenas. É algo agradável de ser assistido, justamente por esse sentimento leve e nostálgico, que faz nos lembrar da nossa infância que tanto sentimos falta.
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