quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

"‘Foi-se’ o tempo do Trash nos videoclipes", por Éllida Belarmino


Nos anos 60, quando o videoclipe começou a ser utilizado em pequena escala, talvez não se pensasse
que este fosse ganhar tamanha notoriedade com o tempo, como aconteceu em 80 e 90. O clipe ganhou
um novo sentido mercadológico e foi adquirindo novas formas em seu fazer e também no interpretar.
Atualmente, o videoclipe passou a utilizar das possibilidades do audiovisual e assim trabalhar de
maneira inusitada com diálogos entre as mais diversas artes. Não se pode mais resumir a percepção do
videoclipe aos sentidos da visão e audição, outros aspectos do indivíduo são afetados diretamente por
este.

Em um jogo de ação e reação entre distintas imagens, vemos um romance entre objetos inanimados,
que nos passa significado e transmite sensação. Respaldada na tensão entre as imagens e o sonoro.
Vemos objetos sendo posicionados em seus lugares para uma exposição de bonecos. Dois deles, um
masculino e outro feminino, são posicionados um frente ao outro. A montagem então passa a nos
mostrar o efeito Kuleshov, que nos faz criar o nascer de um amor.
A dimensão imagética do Clipe do Daft Punk, Instant Crush, suscita no espectador a emoção dos
‘indivíduos’ que vivem o romance, como também a de um observador passivo. Vemos um amor
correspondido crescer, evoluir da troca de olhares para uma aproximação e passar por um
distanciamento. Que significamos como ‘doloroso’. Nos envolvemos com a narrativa e com a melodia
da música que a trilha.

Por sua vez, podemos perceber que o clipe não se limita a ser uma tradução da sua letra. Está longe
disso, na verdade. Entretanto, fugir de ser uma tradução e beber da fonte de outras artes, não foi
suficiente para a construção do clipe, e fizeram a inserção de Julian Casablancas (1) cantando a música.
Uma demonstração do trash de dentro do videoclipe.

Entretanto, mesmo com os inserts de Julian ‘no meio da história’, não serviu como uma quebra de
continuidade para a história contada. O espectador é completamente capaz de se sentir levado pela
história. Que, mesmo sendo mais uma história de amor ‘clichê’, havendo separação e uma união ao fim,
consegue se destacar com criatividade e ousadia perante outros videoclipes até mesmo da própria
banda. Sendo capaz de referenciar visivelmente diversas artes. Seja a artes plásticas, os filmes de
ficção ou outros.

NOTA
1 Julian Fernando Casablancas é um vocalista e músico americano, e membro da banda The Strokes.

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