Spring break é um pequeno recesso logo no início da primavera no
hemisfério norte, especificamente nos Estados Unidos e em algumas partes do
Canadá. O filme de Harmony Korine, diretor de Gummo (1997) e Julien
Donkey-Boy (1999), explora mais uma vez o sedutor universo adolescente em Spring Breakers (Estados Unidos, 2012,
94 min).
Num
misto de filme de gangster e conto de
fadas da Disney – com suas “musas infantis”: Selena Gomez e Vanessa Hudgens,
além da atriz da aclamada série adolescente Pretty
Little Liars Ashley Benson como protagonistas, o filme de Korine explode em
sensações e biquínis mínimos, num recorte do que os puritanos e conservadores
americanos desdenham e repulsam em sua própria cultura, talvez precursora de
uma tendência mundial iniciada nos anos 1960: amor livre, sexo e drogas.
Korine
conta a história de quatro garotas: Faith, Candy, Brit e Cotty – interpretada pela
mulher do diretor, Rachel Korine – melhores amigas desde o ensino fundamental
que querem um pouco de aventura. Elas decidem juntar dinheiro para ir ao spring break e terem a melhor
experiência de suas vidas. Quando chegam ao local, elas encontram um mundo
alucinante regado a álcool, drogas e sexo, onde conhecem também um traficante
de drogas, Alien – incrivelmente interpretado por James Franco – que mudará pra
sempre suas vidas.
A câmera de Korine viaja entre corpos seminus,
pontuando seu gosto por essa cultura niilista e hedonista tão cultuada pelos
adolescentes: da voz over de Faith descrevendo sua experiência sensorial com
aquele momento em comunhão com suas melhores amigas, a diálogos que descascam o
que a sociedade americana tem de mais podre, no sentido da moral e bons
costumes, o diretor costura sua história seguindo as protagonistas, fazendo com
que o espectador não consiga desviar sua atenção ou tirar os olhos da volúpia incorrigível,
quase felliniana daquelas garotas e
do que elas são capazes de fazer para se satisfazer.
A
trama também vem carregada de pastiche aos filmes de gangster na figura do personagem de James Franco: Alien, um
traficante de drogas que tira as garotas da prisão e passa a se envolver com
todas elas. Franco interpreta essa figura quase lendária, pautada sobre seus
gostos extravagantes, como sua casa, ou mesmo sua “erudição” ao tocar no piano
a música Everytime da diva pop Britney Spears, onde ele inclusive diz que
Britney é a “maior artista de todos os tempos”.
É
interessante a construção desses personagens, desde a escolha do elenco da
intrigante obssessão pelas Princesas Disney, colocando-as em papeis altamente
sexualizados, transformando-as de queridinhas do público infanto-juvenil em
garotas malvadas, perigosas e sensuais, nessa transição de adolescência pra
vida adulta. Deliberadamente, o diretor flerta fortemente com o gosto camp associado ao que vemos em termos de
direção de arte, retomando aqui a casa de Alien onde existem objetos bizarros,
uma cama com luzes brilhantes, suas armas expostas na parede, o piano branco
perto da piscina, até o figurino e visagismo dos personagens: as garotas sempre
em roupas curtas, biquínis, associando-as a marcas populares (Nike, Vans, Havaianas), até mesmo a imagem ou “estigma” das atrizes serem Princesas Disney,
além de colocá-las em situações que a grande maioria do público acharia
bizarras ou inverossímeis – a cena final onde elas partem para o “combate”
vestidas apenas de biquínis e máscaras e armadas com metralhadoras.
Spring Breakers é um relato alucinante, quase viciante de um mundo
partido entre a chocante realidade escapista e incompreendida dos adolescentes,
e a realidade tão próxima, tão palpável dessas relações pouco exploradas, pouco
explicadas, seja na ficção – incluindo aqui também a literatura com o hype relativamente recente da série Twilight por Stephanie Meyer ou a música
com diversas boy bands como One
Direction e os coreanos da Super Junior, ou o ídolo teen Justin Bieber – ou na realidade onde vemos pais sem saber o
que fazer com seus filhos.
Em
suma, o filme de Harmony Korine nos oferece uma visão verossímil mas ainda
assim surreal em seus personagens com cores pulsantes procurando pelo
significado de viver, ou viver intensamente, ou procurando significado nenhum,
apenas fazendo o que querem, quando querem, como qualquer adolescente.
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