As telenovelas brasileiras são um produto de grande aceitação do público tanto dentro como fora do Brasil. Só as produções da Rede Globo são exportadas para mais de 125 países. Aqui elas desempenham um importante papel na articulação da sociedade, alimentando a opinião pública. As novelas podem ser vistas
...como um documento de época, como uma enunciação que participa da construção de memórias coletivas, de vez que a memória - esta narrativa que se presta à composição de identidades e sentidos - está intimamente relacionada com as imagens que construímos do (e no) presente, que se mantêm e se transformam através da participação na arena de conflitos que é o debate pela hegemonia social. Passa a ser vista também, principalmente no Brasil, como um dos discursos que ajuda a alimentar a opinião pública e a estabelecer consensos.(MOTTER, 2005, p.3)
A influência é tão grande que são capazes de lançar moda e deixar assuntos por meses em pauta. Um desses assuntos que são capazes de ficar na boca do povo durante toda a trama são as relações homossexuais.
Atualmente, faz sucesso o modelo de telenovela que cruza e contextualiza diversos temas polêmicos em histórias independentes. Entre as inúmeras relações que cabem dentro do modelo da teledramaturgia contemporânea, é recorrente que, em pelo menos uma delas, a homossexualidade seja abordada – tanto sob a ótica da caricatura, como a partir de um ideal de perfeição.
Pensar que a presença de casais homossexuais nas telenovelas da Globo é uma abordagem atual é um grande equívoco. Há registro da presença de personagens gays desde a década de 70. Segundo Leandro Colling, no seu artigo “O Homoerotismo nas Telenovelas da Globo e a Cultura”, apresentado no Terceiro Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura, o primeiro registro da menção da homossexualidade em telenovelas da emissora foi em Rebu, de Bráulio Pedroso, exibida de novembro de 1974 até maio de 1975. Na trama, um dos parceiros gays assassina a mulher por quem o namorado se apaixona. Na mesma novela, Glorinha, representada por Isabel Ribeiro, cansada do tédio de seu casamento, foge com Roberta (Regina Viana). A última cena das duas as mostra fora de foco com os bondinhos do Pão de Açúcar se cruzando ao fundo.
Ainda na década de 70, a segunda novela que sugere o tema também o atrela ao crime. O Astro (1977) de Janete Clair contou a história do cabeleireiro gay Henri. Ele colaborou em um assassinato, ajudando o amigo por quem nutria uma paixão. O terceiro roteiro que abordou a temática foi Dancin’ days (1978), de Gilberto Braga. Na história, o ator Renato Pedrosa representava um mordomo afeminado e exagerado chamado Everaldo. O garçom Waldomiro e o chefe de cozinha Pierre Lafond de Marron-Glacê (1979) também reafirmaram esse estereótipo extravagante.
Na passagem dos anos 70 para os 80 estava no ar Os Gigantes (1979) de Lauro César Muniz. Na novela, não há nenhuma representação clara, apenas insinuações de um casal de lésbicas, justamente as protagonistas: Paloma (Dina Sfat) e Renata (Lídia Brondi). A história não foi para frente por causa da censura da ditadura militar. A repressão foi tanta que a novela acabou em suicídio.
A década de 80 foi mais livre nesse aspecto. A presença de homossexuais ficou mais freqüente e explícita nas produções globais. Foram nove telenovelas que exploraram a temática. Ainda em 1981, a cena em que o personagem Inácio (Denis Carvalho) assume ser gay para sua mãe (Fernanda Montenegro), em Brilhante de Gilberto Braga, causou comoção na audiência. No entanto, o relacionamento entre Inácio e seu namorado foi ocultado para passar pelo departamento de censura do governo. Ironia ou não, no final da história o casal terminou livre e feliz na Europa. Essa novela tem destaque por tratar do tema com um pouco mais de discurso social e por não ter brincado com os estereótipos.
Em 81 também foi ao ar Ciranda de Pedra de Teixeira Filho. Na novela, a homossexualidade era sugerida por Letícia (Mônica Torres), uma feminista que se comportava como um homem.
Seguindo a ordem, veio Um Sonho a Mais (1985), escrita por Daniel Más. O primeiro beijo entre pessoas do mesmo sexo aconteceu nessa produção: foi um singelo “selinho” entre travestis. No total, eram três personagens que também se encaixavam no estereótipo de extravagância, eles eram representados por Ney Latorraca, Marco Nanini e Patrício Bisso. Mas a reação do público foi tanta, que eles sumiram da novela
Quando Roda de Fogo (1986), de Lauro César Muniz vai ao ar, volta a tendência dos anos 70. Nessa novela, aparecem dois gays, ambos vilões assassinos. Em seguida vem Mandala (1987), dirigida por Dias Gomes. A trama também conta com um personagem homossexual criminoso.
Em 1988 é exibida Vale Tudo. A manifestação homossexual nessa telenovela é tão discreta que pouca gente percebeu que estava na trama um casal de lésbicas. Laís e Cecília, representadas por Cristina Prochaska e Lala Deheinzelin, respectivamente, namoravam até que Cecília morre e Laís começa um relacionamento com Marília (Bia Seidl). Elas se relacionam de forma discreta com poucas manifestações de carinho.
Em seguida, são representadas novamente mulheres masculinizadas. Dessa vez em Bebê a Bordo (1988) de Carlos Lombardi - são duas lésbicas que vivem um relacionamento correspondido. Além dessas produções, outras duas do final da década abordaram a homossexualidade. Não eram personagens de muita relevância para as tramas e por isso não causaram tanta inquietação na audiência. Foi o personagem afeminado Bombom de Pacto de Sangue - novela de Regina Braga - e Niete e Osmar, ambos personagens representados pelo travesti Rogéria em Tieta do Agreste, de Aguinaldo Silva.
Assim como nos anos 80, na década de 90, a Globo trouxe para a audiência mais nove novelas que abordaram a homossexualidade. As três primeiras, Mico Preto (1990), Barriga de Aluguel (1990) e Pedra Sobre Pedra (1992), ainda trouxeram consigo, o modelo de homossexual extravagante, exagerado e afetado.
A partir de A Próxima Vítima, de Sílvio de Abreu exibida em 1995, o perfil dos homossexuais começa a ser explorado com menos apelo à caricatura. Sandrinho (André Gonçalves) e Jefferson (Lui Mendes) viveram um romance gay explícito com direito a final feliz. A cena em que Sandrinho se revela gay para a sua mãe foi uma das mais esperadas e teve uma das maiores audiências de toda a trama.
Ainda segundo Eduardo Colling influenciado pelo conceito de revelação do autor Dennis Allen, A Próxima vítima foi importante, pois marcou uma quebra no perfil dos homossexuais na teledramaturgia brasileira. Ele diz que os personagens foram divididos em dois grandes blocos: os sérios, que o público deveria acompanhar o drama individual da aceitação e da revelação para a sociedade, e os caricatos, que já estavam assumidos desde o início do roteiro.
Explode Coração (1995) e Zazá (1997) seguiram a segunda tendência. Na primeira, Floriano Peixoto interpretou um travesti e na segunda, Marcos Breda fez o papel do afetado Ro-rô Pedalada.
Em 1998 foi ao ar Por Amor de Manoel Carlos. Na trama, o bissexual Rafael (Odilon Wagner) larga a família para viver um relacionamento com outro homem. O público se identifica com o personagem justamente por ele usar o artifício de se revelar aos poucos. Até a metade da novela, ele vivia uma vida aparentemente heterossexual.
No final da década de noventa o modelo do gay caricatural volta ao ar em Suave Veneno (1999) – novela de Agnaldo Silva. Nesse momento, Diogo Vilela e Luis Carlos Tourino interpretam os afetados Ualber e Edilberto, respectivamente. Apesar de duras críticas de alguns grupos gays, ambos tiveram ótima aceitação do público.
A partir do ano 2000 a Globo consolidou a pratica de alternar personagens caricatos e sérios. Em As Filhas da Mãe (2001) de Silvio de Abreu, aparece na teledramaturgia brasileira a primeira referência aos transgêneros. Interpretado por Claudia Raia, o personagem viveu um relacionamento com Leonardo, representado por Alexandre Borges.
A novela Desejos de Mulher (2002), de Euclydes Marinho, veio em seguida com uma peculiaridade: o casal gay que estava presente desde o início da trama sofreu uma mudança drástica no decorrer da novela. Eles, que de início eram sérios, tornaram-se verdadeiras caricaturas. Essa mudança é atribuída aos baixos índices de audiência da novela.
Seguindo o modelo de Por Amor, Mulheres Apaixonadas (2003) veio em seguida. Lá o homossexual também foi tratado com sobriedade. Era um casal lésbico, Clara (Aline Moraes) e Rafaela (Paula Picarelli), que se encaixava perfeitamente nos moldes heterossexuais: queriam casar e ter filhos, apesar de explicitamente trocar carícias. O padrão acabou virando uma constante para a aceitação dos personagens pelo público na maioria das novelas desse modelo que sucederam Mulheres Apaixonadas.
No mesmo período, porém em outro horário, estava sendo exibida Kubanacan (2003) de Carlos Lombardi. Nessa produção, o autor abusou dos personagens masculinos, mas que se fingiam ser homossexuais.
Em seguida, foi veiculada a novela Celebridades (2003), de Gilberto Braga. Dois casos de homossexualidade foram abordados: o primeiro de um bombeiro que perde o emprego quando resolve posar para uma revista gay e o outro de um casal de bissexuais que teve um rápido relacionamento. Eram duas mulheres, Laura, representada por Claudia Abreu, e Dora, interpretada por Renata Sorrah.
Senhora do Destino (2004) também apostou na delicadeza de um casal de lésbicas jovens e que nutriam desejos comuns a heterossexuais. Leonora (Milla Crystie) e Jenifer (Bárbara Borges) se relacionam aos poucos. O telespectador acompanha toda a descoberta, as duas assumem o relacionamento a partir da metade da novela. Elas também trocavam carícias explicitas e foi veiculada uma cena em que as duas dormiam na mesma cama, no entanto, o beijo gay não aconteceu. Na mesma novela, também aconteceu uma brincadeira com os estereótipos. O exagerado e afeminado carnavalesco Ubiracy (Luis Henrique Nogueira) vivia um relacionamento com o bissexual Turcão (Marco Vivela), também o típico modelo de falso machão.
Em 2005 foi ao ar a telenovela América, dirigida por Glória Perez. A temática foi abordada a partir dos dilemas do filho de fazendeiros Junior (Bruno Gagliasso). Criado para herdar todos os negócios da família, o personagem fingiu muito tempo interesse pelas atividades que a mãe esperava dele. No entanto, ele vivia em conflito. Na verdade, queria ser estilista e assumir o amor por um peão da fazenda. Ao final da novela, os dois ficam juntos. O tão esperado beijo chegou a ser gravado, porém não foi exibido. A emissora alegou que seria complicado exportar a novela para outros países que, pela cultura, não aceitam esse tipo de comportamento. No mesmo período estava no ar a telenovela A Lua me Disse (2005) de Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa. A novela contou com mais três personagens gays.
A última novela do horário das nove horas foi Páginas da Vida (2006), de Manoel Carlos. Nessa produção o dermatologista Rubens (Fernando Eira) e o músico Marcelo (Thiago Picchi) viveram um relacionamento maduro e estável. Eram casados, bonitos, bem-sucedidos, apreciavam arte e mantinham um bom relacionamento com todos, inclusive com a família. O casal gay da atual novela do horário, Paraíso Tropical, de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, segue esse mesmo padrão. A dupla é interpretada pelos atores Carlos Casagrande e Sérgio Abreu.
Formas de tematização, Apolo e Dionísio
Motter & Jakubaszko (2005), em artigo enviado ao V Encontro de Núcleos de Pesquisa da Intercom, definem os tipos de focalização de temas em telenovelas.
1) Quando o debate é intenso, a discussão pode ser frontal, ocupando grande espaço na trama (tematização), ou lateral, menos aprofundada (denúncia).
2) Se o assunto não possui uma importância central na história, pode ser apresentado como:
- discussão (a telenovela conversa com o público sobre determinado tema, normalmente através de conversas / reflexões de personagens);
- crítica de valores, comportamentos, sem que, necessariamente, o tema seja reiterado; normalmente, também através de conversas/reflexões de personagens;
- merchandising social, inserções pontuais em núcleos e tramas de menor importância na novela. Pode apresentar caráter claramente didático.
3) Por fim, o dramaturgo pode optar por apenas mostrar um tema sem discuti-lo, lembrar acontecimentos específicos da “vida real” através de diálogos entre os personagens ou esboçar questionamentos ao senso comum.
Observamos que o relacionamento entre Tiago e Rodrigo, em Paraíso Tropical, não se enquadra em nenhuma dessas categorias. A identidade sexual de ambos, o fato de viverem uma união estável, é apenas posto, sem panfletarismos ou alarde, não chegando a caracterizar uma temática da trama.
Essa é nova tendência na representação da homossexualidade em novelas da Rede Globo. O casal homossexual é representado sem extravagância ou caricatura. Na verdade, ele é criado para ser mais um dentro do enredo. Sobre o assunto, Ricardo Linhares afirma: “O casal homossexual é um casal como outro qualquer da novela. Não é um casal polêmico nem a novela vai levantar bandeira sobre a homossexualidade. Eles são aceitos com naturalidade pela sociedade, pelo círculo de amigos e no trabalho”.
Entretanto, apesar da intenção de pôr esses personagens como normais e aceitos sem problema algum, o que se tem é um casal que se pode chamar de “quase perfeito”. Isso porque, na tentativa de não gerar polêmica ou tratar de questões como um preconceito social, acaba-se por deixar escapar também da tela as dificuldades corriqueiras que qualquer casal, seja ele hetero ou homossexual, enfrenta.
Nesse novo tipo de concepção, tem-se representado um ideal de perfeição – almejado por todos os casais – que vai desde a beleza física até a maneira carinhosa e amiga com que os personagens se relacionam entre eles e com os outros na novela. Os personagens gays são pessoas independentes, financeiramente bem-sucedidas, íntegras, politicamente corretas (se contrapondo aos vilões da novela), seguras, jovens, fiéis, bem resolvidas, com relacionamentos ideais. Eles não possuem trejeitos, não são afeminados; consolam, ajudam e acolhem personagens de diversos núcleos da novela e estão sempre de bem com a vida.
Em meio a personagens com dramas pessoais, frustrações, expectativas, eles surgem como porto seguro, um ideal de perfeição apolínea[1]. A vida deles é, enquanto a dos outros personagens, mesmo os igualmente coadjuvantes, caracteriza-se como um eterno vir a ser, repleto de reviravoltas.
Para o ator Carlos Casagrande, essa é uma das melhores maneiras de falar de hossexualidade, sem, contudo, tê-la como principal aspecto da trama. Ele diz: “Na verdade, não é tratado o homossexualismo (sic) dentro da novela. É tratado sim, de um casal gay estar inserido na sociedade. Então, o casal ajuda a contar a história da novela, mas não se fala do relacionamento dos dois. Eles estão inseridos na comunidade, na sociedade, e não têm, absolutamente, nenhum tipo de preconceito, nenhum tipo de discriminação (...). Então, isso acaba ficando muito natural. (...) Acredito eu, (...) que há uma influência, talvez, pra sociedade tratar também os homossexuais iguais; pra que dê uma quebra, um pouco, no preconceito da sociedade, que nós temos e não adianta negar”. O ator Sérgio de Abreu concorda. “A homossexualidade é mais um dado da vida desses personagens, e não o dado”, diz.
Se entre autores e atores as opiniões são bem sintonizadas, entre o público não há consenso. Sites como o AthosGLS e GLS Planet, em matéria veiculadas em seus endereços, apóiam a iniciativa. Já a Associação da Parada do Orgulho GLBT de Goiás (APOGLBT-GO), reivindica realismo nas tramas. "A falta de abraços, beijos, carícias e simulações sexuais por debaixo dos lençóis, como acontece com os casais heterossexuais da novela, mesmo quando o casal gay está sozinho, em uma novela das nove horas da noite, demonstra que a ficção do folhetim está muito longe da realidade vivenciada pelos homossexuais do país. Gays também merecem um Paraíso tropical”, afirma Léo Mendes, coordenador da Associação da Parada, em ofício enviado aos diretores de Paraíso Tropical. Acerca desse assunto, apesar de afirmar que filmaria um beijo gay, o interprete Sérgio Abreu comenta: “É uma forma de fugir do estereótipo e é uma forma também das pessoas perceberem as sutilezas do mundo dos homossexuais. E eu acho que as sutilezas são as coisas mais bonitas; escancarar tudo perde a magia, perde o encanto”.
Mesmo com tanta divergência de opiniões, vale ressaltar que esse tipo de representação vem, cada vez mais, ganhando força e expressão, principalmente, nas telenovelas exibidas às vinte e uma horas da Rede Globo. De fato, essa é uma tendência que tenta agradar a todos: pretende, por um lado, não escandalizar indivíduos socialmente conservadores e, por outro, representar os homossexuais[2].
Como opção ética e estética, a representação de Tiago e Rodrigo é o extremo oposto do camp, uma representação do dionisíaco.
Como comportamento, o camp pode ser comparado à fechação, à atitude exagerada de certos homossexuais, ou simplesmente afetação. Já como estética, o camp estaria mais na esfera do brega assumido, sem culpas... (LOPES, 2002, p. 95)
É a capacidade de perceber o mundo como teatro[3], uma introdução da ficção na vida cotidiana, redimensionando o espaço público pelo ludismo das massas. Essa “sensibilidade gay” não está, necessariamente, vinculada a homossexuais, mas é uma conexão (via paródia, pastiche e exagero) entre hetero e homossexuais. O camp é filho legítimo da sociedade simulacral (LOPES, 2002).
As conseqüências do simulacro como eixo de uma época (...) implicam o declínio de parâmetros como real / irreal (...). As imagens midiáticas permeiam de tal forma o mundo que se tornam referências tão ou mais básicas de informação do que o cotidiano (...). A realidade se torna um jogo de imagens em substituição frenética”. (Idem, p. 105-106)
A expressão máxima do camp é o travesti, “personagem alegórico de uma modernidade inconclusa e em crise” (Idem, p. 101). Ele é caracterizado não por uma dualidade homem/mulher, mas por um impulso à simulação, à estética do artifício, que “não só aparece como dissimulação, mentira, mas desconstrói a dualidade entre natureza e cultura” (Idem, p. 109).
A estratégia de comunicação / sedução representada pelo camp não deve ser confundida com algumas representações feitas, principalmente, em programas humorísticos. Usaremos como exemplo o Zorra Total, exibido pela Rede Globo às noites de sábado desde março de 1999. O programa já passou por diversas etapas; atualmente, é composto por diversos quadros com personagens fixos. Zorra Total é conhecido por seu humor popular, que se vale de clichês, situações repetitivas e chavões para provocar risos.
Personagens homossexuais aparecem com alguma freqüência no humorístico. São construídos tendo por base uma série de estereótipos, tanto comportamentais como visuais, sendo facilmente reconhecíveis para o público. Essa forma de representação não destoa do resto do Zorra Total, que costuma receber muitas acusações de desrespeito às mulheres tanto quanto aos homossexuais. A atração é freqüentemente alvo de protestos por parte do movimento gay e de associações de direitos humanos. Em 2005, diversas organizações GLBTT entraram com uma ação no Ministério Público para remover quadros ofensivos do ar.
Um dos personagens gays do programa era Alfredinho, interpretado por Lúcio Mauro Filho. Os esquetes sempre apresentavam o personagem, afetado e efeminado, junto com o pai, Fernandinho. Fernandinho sempre tentava fazer Alfredinho se interessar por mulheres, mas este só pensava em moda, maquiagem, balé ou qualquer outro assunto considerado feminino ou gay. O quadro sempre terminava com Fernandinho dizendo o seu bordão: “onde foi que eu errei?”
Mais recentemente, Zorra Total contava com a participação do ator Rodrigo Fagundes como Patrick. Um personagem que explora o clichê do gay afetado, Patrick tinha, porém, um diferencial: apesar de iniciar o seu quadro como frágil vítima de chacota dos “machões” do programa, ele termina por demonstrar uma personalidade violenta, pronto para revidar os desaforos. Seu bordão (todos os personagens de Zorra Total têm pelo menos um bordão) é, curiosamente, “olha a faca!”.
Patrick e Alfredinho são facilmente reconhecíveis pelo público como homossexuais, devido a uma caracterização estereotipada dos seus comportamentos e trejeitos. Os personagens raramente demonstram desejo sexual, entretanto. Sabe-se da sua orientação por causa dos sinais externos, mas em quase nenhum momento uma possibilidade de relacionamento se faz presente.
Apesar dessa estetização da sexualidade, tais personagens não podem ser caracterizados como camp de fato.
...o camp expressa não o desejo de afirmação do estereótipo envelhecido da bicha louca, mas o desejo de empreendermos todos, das mais diversas sexualidade e sensualidades, uma nova educação sentimental, não pela busca da autenticidade de sentimentos cultivados pelos românticos, mas pela via da teatralidade... (Idem, p.113)
O que se vê na maioria dos humorísticos brasileiros são estereótipos surgidos não de um conhecimento, um entendimento e mesmo um afeto (por que isso, no camp, é essencial) pela cultura gay, mas de idéias pré-concebidas vindas de uma observação distante, “de fora”, que se recusa a olhar além do óbvio e compreender a lógica interna que rege idéias e comportamentos.
Outro personagem/quadro que apresentado por Zorra Total era o Pitbicha, interpretado por Tom Cavalcante. Sua “molde” parece ter sido tirado da banda Village People: ele veste jaqueta e boné de couro, tem um bigode à Freddie Mercury e usa acessórios com toques sado-masoquistas. Ao contrário dos dois personagens citados anteriormente, praticamente assexuados, Pitbicha é quase “hipersexuado”: assedia todos os homens do programa e o seu bordão, que durante o breve período em que o seu personagem fazia parte do humorístico entrou para a cultura popular, é “cuecão de couro”. Representa um outro clichê sobre a cultura gay: o homossexual masculinizado, de voz grossa, pêlos fartos e apetite sexual voraz. O próprio nome do personagem deixa claro as aparentes contradições de sua figura: vem de pitboy, rapaz freqüentador assíduo de academias, agressivo e preconceituoso, que vive se envolvendo em brigas pelo prazer de bater.
Pitbicha seria o personagem que mais se aproximaria de uma “caricaturização de dentro” da comunidade gay. Ele faz parte de um imaginário sobre subculturas como biker (motoqueiros), BDSM (Bondage/Discipline Domination/Submission Sado-Masochism) e Bears (ou ursos - gays ultra-masculinos). Ainda assim, o que se vê não é tanto uma caricatura dessas subculturas, mas a apresentação de clichês já processados pelo mainstream e tornados lugares-comuns através da circulação massiva de certas imagens: as fantasias do Village People, o bigode de Freddie Mercury, os adeptos da cultura leather (fetiche por couro) das paradas gays pelo mundo.
Em jeito de conclusão
Apesar de apresentarem imagens diferentes sobre os homossexuais, Zorra Total e Paraíso Tropical têm em comum o fato de serem produtos voltados a um público massivo. Na televisão, que pretende atrair as mais diversas pessoas, é raro se representar o que não é normativo na sociedade. Comportamentos de nichos, em geral, têm tão pouco espaço na mídia massiva quanto inovações estéticas ou trilhas sonoras experimentais. Na busca pela representação dos homossexuais (que, obviamente, também são telespectadores), tateia-se entre o exótico, o estranho, e a quase invisibilidade, como no caso de Tiago e Rodrigo na atual novela das nove.
E se é difícil agradar tantos públicos, é importante lembrar que os homossexuais também divergem quanto a melhor forma de serem representados[4]. São diversos os comportamentos, estilos de vida, gostos, interesses (como, aliás, o são em toda a sociedade). O caminho, talvez, seja o de um equilíbrio dialético, um Yin e Yang, entre o Dionisiáco e o Apolíneo, entre a representação “politicamente correta”, mas insossa, e a extravagante, cheia de vida, mas com existência trágica, vista como engraçada e facilmente caricaturável. Esse caminho parece estar sendo traçado agora, em Paraíso Tropical, através da chegada uma nova personagem, Carolina.
Na Copacabana da novela, a síndica de um edifício quer proibir a entrada de travestis e transformista no prédio. Estes, quando visitam seus amigos no prédio, recebem ataques preconceituosos da síndica. Esse é o estopim para uma série de confusões e cenas engraçadas, em que Carolina (interpretada pela transformista Rogéria)[5] se une a outras personagens da trama para se “dar uma lição” na “megera”.
Tratar de preconceito com humor: nada mais politicamente correto e, diga-se de passagem, muito mais novelesco e saboroso.
BIBLIOGRAFIA
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ZORRA Total. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Zorra_Total>. Acesso em: 01 ago 2007.
[1] O apolíneo, como representado por Nietzsche em O nascimento da Tragédia, representaria equilíbrio, moderação, regras, civilidade, aparências. Já o dionisíaco seria devir, exagero, impulso, irracionalidade.
[2] O seriado americano Os Assumidos (Queer as Folk) também se propõe a representar os gays como pessoas comuns, sem utilizar símbolos usualmente relacionados à imagem do homossexual, como gestos, roupas e modos de falar. A grande diferença em relação às telenovelas brasileiras, porém, é que os personagens são retratados no cotidiano (relações de família, trabalho, doenças, romances, etc), sem deixar de contemplar o erotismo. “Beijos, abraços, relações sexuais não são somente insinuadas, mas representadas tal como é feito desde sempre nas representações ficcionais envolvendo heterossexuais. E esse é um dos aspectos que mais causam polêmica no referido seriado” ( ZANFORLIN, 2005, p.03).
[3] Nunca é demais lembrar que Dionísio (ou Baco) também é conhecido como deus do teatro...
[4] LOPES (2002) cita, como uma das faces desse fenômeno, o crescente “bom mocismo” das organizações homossexuais. Muitas delas, atualmente, lutam mais por uma integração ao status quo (uma “assimilação gay de classe média” ) do que por uma sociedade multicultural.
[5] Curiosamente, como estratégias para dar realismo à temática, os personagens travestis de Paraíso Tropical são representados por “travestis na vida real”.
...como um documento de época, como uma enunciação que participa da construção de memórias coletivas, de vez que a memória - esta narrativa que se presta à composição de identidades e sentidos - está intimamente relacionada com as imagens que construímos do (e no) presente, que se mantêm e se transformam através da participação na arena de conflitos que é o debate pela hegemonia social. Passa a ser vista também, principalmente no Brasil, como um dos discursos que ajuda a alimentar a opinião pública e a estabelecer consensos.(MOTTER, 2005, p.3)
A influência é tão grande que são capazes de lançar moda e deixar assuntos por meses em pauta. Um desses assuntos que são capazes de ficar na boca do povo durante toda a trama são as relações homossexuais.
Atualmente, faz sucesso o modelo de telenovela que cruza e contextualiza diversos temas polêmicos em histórias independentes. Entre as inúmeras relações que cabem dentro do modelo da teledramaturgia contemporânea, é recorrente que, em pelo menos uma delas, a homossexualidade seja abordada – tanto sob a ótica da caricatura, como a partir de um ideal de perfeição.
Pensar que a presença de casais homossexuais nas telenovelas da Globo é uma abordagem atual é um grande equívoco. Há registro da presença de personagens gays desde a década de 70. Segundo Leandro Colling, no seu artigo “O Homoerotismo nas Telenovelas da Globo e a Cultura”, apresentado no Terceiro Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura, o primeiro registro da menção da homossexualidade em telenovelas da emissora foi em Rebu, de Bráulio Pedroso, exibida de novembro de 1974 até maio de 1975. Na trama, um dos parceiros gays assassina a mulher por quem o namorado se apaixona. Na mesma novela, Glorinha, representada por Isabel Ribeiro, cansada do tédio de seu casamento, foge com Roberta (Regina Viana). A última cena das duas as mostra fora de foco com os bondinhos do Pão de Açúcar se cruzando ao fundo.
Ainda na década de 70, a segunda novela que sugere o tema também o atrela ao crime. O Astro (1977) de Janete Clair contou a história do cabeleireiro gay Henri. Ele colaborou em um assassinato, ajudando o amigo por quem nutria uma paixão. O terceiro roteiro que abordou a temática foi Dancin’ days (1978), de Gilberto Braga. Na história, o ator Renato Pedrosa representava um mordomo afeminado e exagerado chamado Everaldo. O garçom Waldomiro e o chefe de cozinha Pierre Lafond de Marron-Glacê (1979) também reafirmaram esse estereótipo extravagante.
Na passagem dos anos 70 para os 80 estava no ar Os Gigantes (1979) de Lauro César Muniz. Na novela, não há nenhuma representação clara, apenas insinuações de um casal de lésbicas, justamente as protagonistas: Paloma (Dina Sfat) e Renata (Lídia Brondi). A história não foi para frente por causa da censura da ditadura militar. A repressão foi tanta que a novela acabou em suicídio.
A década de 80 foi mais livre nesse aspecto. A presença de homossexuais ficou mais freqüente e explícita nas produções globais. Foram nove telenovelas que exploraram a temática. Ainda em 1981, a cena em que o personagem Inácio (Denis Carvalho) assume ser gay para sua mãe (Fernanda Montenegro), em Brilhante de Gilberto Braga, causou comoção na audiência. No entanto, o relacionamento entre Inácio e seu namorado foi ocultado para passar pelo departamento de censura do governo. Ironia ou não, no final da história o casal terminou livre e feliz na Europa. Essa novela tem destaque por tratar do tema com um pouco mais de discurso social e por não ter brincado com os estereótipos.
Em 81 também foi ao ar Ciranda de Pedra de Teixeira Filho. Na novela, a homossexualidade era sugerida por Letícia (Mônica Torres), uma feminista que se comportava como um homem.
Seguindo a ordem, veio Um Sonho a Mais (1985), escrita por Daniel Más. O primeiro beijo entre pessoas do mesmo sexo aconteceu nessa produção: foi um singelo “selinho” entre travestis. No total, eram três personagens que também se encaixavam no estereótipo de extravagância, eles eram representados por Ney Latorraca, Marco Nanini e Patrício Bisso. Mas a reação do público foi tanta, que eles sumiram da novela
Quando Roda de Fogo (1986), de Lauro César Muniz vai ao ar, volta a tendência dos anos 70. Nessa novela, aparecem dois gays, ambos vilões assassinos. Em seguida vem Mandala (1987), dirigida por Dias Gomes. A trama também conta com um personagem homossexual criminoso.
Em 1988 é exibida Vale Tudo. A manifestação homossexual nessa telenovela é tão discreta que pouca gente percebeu que estava na trama um casal de lésbicas. Laís e Cecília, representadas por Cristina Prochaska e Lala Deheinzelin, respectivamente, namoravam até que Cecília morre e Laís começa um relacionamento com Marília (Bia Seidl). Elas se relacionam de forma discreta com poucas manifestações de carinho.
Em seguida, são representadas novamente mulheres masculinizadas. Dessa vez em Bebê a Bordo (1988) de Carlos Lombardi - são duas lésbicas que vivem um relacionamento correspondido. Além dessas produções, outras duas do final da década abordaram a homossexualidade. Não eram personagens de muita relevância para as tramas e por isso não causaram tanta inquietação na audiência. Foi o personagem afeminado Bombom de Pacto de Sangue - novela de Regina Braga - e Niete e Osmar, ambos personagens representados pelo travesti Rogéria em Tieta do Agreste, de Aguinaldo Silva.
Assim como nos anos 80, na década de 90, a Globo trouxe para a audiência mais nove novelas que abordaram a homossexualidade. As três primeiras, Mico Preto (1990), Barriga de Aluguel (1990) e Pedra Sobre Pedra (1992), ainda trouxeram consigo, o modelo de homossexual extravagante, exagerado e afetado.
A partir de A Próxima Vítima, de Sílvio de Abreu exibida em 1995, o perfil dos homossexuais começa a ser explorado com menos apelo à caricatura. Sandrinho (André Gonçalves) e Jefferson (Lui Mendes) viveram um romance gay explícito com direito a final feliz. A cena em que Sandrinho se revela gay para a sua mãe foi uma das mais esperadas e teve uma das maiores audiências de toda a trama.
Ainda segundo Eduardo Colling influenciado pelo conceito de revelação do autor Dennis Allen, A Próxima vítima foi importante, pois marcou uma quebra no perfil dos homossexuais na teledramaturgia brasileira. Ele diz que os personagens foram divididos em dois grandes blocos: os sérios, que o público deveria acompanhar o drama individual da aceitação e da revelação para a sociedade, e os caricatos, que já estavam assumidos desde o início do roteiro.
Explode Coração (1995) e Zazá (1997) seguiram a segunda tendência. Na primeira, Floriano Peixoto interpretou um travesti e na segunda, Marcos Breda fez o papel do afetado Ro-rô Pedalada.
Em 1998 foi ao ar Por Amor de Manoel Carlos. Na trama, o bissexual Rafael (Odilon Wagner) larga a família para viver um relacionamento com outro homem. O público se identifica com o personagem justamente por ele usar o artifício de se revelar aos poucos. Até a metade da novela, ele vivia uma vida aparentemente heterossexual.
No final da década de noventa o modelo do gay caricatural volta ao ar em Suave Veneno (1999) – novela de Agnaldo Silva. Nesse momento, Diogo Vilela e Luis Carlos Tourino interpretam os afetados Ualber e Edilberto, respectivamente. Apesar de duras críticas de alguns grupos gays, ambos tiveram ótima aceitação do público.
A partir do ano 2000 a Globo consolidou a pratica de alternar personagens caricatos e sérios. Em As Filhas da Mãe (2001) de Silvio de Abreu, aparece na teledramaturgia brasileira a primeira referência aos transgêneros. Interpretado por Claudia Raia, o personagem viveu um relacionamento com Leonardo, representado por Alexandre Borges.
A novela Desejos de Mulher (2002), de Euclydes Marinho, veio em seguida com uma peculiaridade: o casal gay que estava presente desde o início da trama sofreu uma mudança drástica no decorrer da novela. Eles, que de início eram sérios, tornaram-se verdadeiras caricaturas. Essa mudança é atribuída aos baixos índices de audiência da novela.
Seguindo o modelo de Por Amor, Mulheres Apaixonadas (2003) veio em seguida. Lá o homossexual também foi tratado com sobriedade. Era um casal lésbico, Clara (Aline Moraes) e Rafaela (Paula Picarelli), que se encaixava perfeitamente nos moldes heterossexuais: queriam casar e ter filhos, apesar de explicitamente trocar carícias. O padrão acabou virando uma constante para a aceitação dos personagens pelo público na maioria das novelas desse modelo que sucederam Mulheres Apaixonadas.
No mesmo período, porém em outro horário, estava sendo exibida Kubanacan (2003) de Carlos Lombardi. Nessa produção, o autor abusou dos personagens masculinos, mas que se fingiam ser homossexuais.
Em seguida, foi veiculada a novela Celebridades (2003), de Gilberto Braga. Dois casos de homossexualidade foram abordados: o primeiro de um bombeiro que perde o emprego quando resolve posar para uma revista gay e o outro de um casal de bissexuais que teve um rápido relacionamento. Eram duas mulheres, Laura, representada por Claudia Abreu, e Dora, interpretada por Renata Sorrah.
Senhora do Destino (2004) também apostou na delicadeza de um casal de lésbicas jovens e que nutriam desejos comuns a heterossexuais. Leonora (Milla Crystie) e Jenifer (Bárbara Borges) se relacionam aos poucos. O telespectador acompanha toda a descoberta, as duas assumem o relacionamento a partir da metade da novela. Elas também trocavam carícias explicitas e foi veiculada uma cena em que as duas dormiam na mesma cama, no entanto, o beijo gay não aconteceu. Na mesma novela, também aconteceu uma brincadeira com os estereótipos. O exagerado e afeminado carnavalesco Ubiracy (Luis Henrique Nogueira) vivia um relacionamento com o bissexual Turcão (Marco Vivela), também o típico modelo de falso machão.
Em 2005 foi ao ar a telenovela América, dirigida por Glória Perez. A temática foi abordada a partir dos dilemas do filho de fazendeiros Junior (Bruno Gagliasso). Criado para herdar todos os negócios da família, o personagem fingiu muito tempo interesse pelas atividades que a mãe esperava dele. No entanto, ele vivia em conflito. Na verdade, queria ser estilista e assumir o amor por um peão da fazenda. Ao final da novela, os dois ficam juntos. O tão esperado beijo chegou a ser gravado, porém não foi exibido. A emissora alegou que seria complicado exportar a novela para outros países que, pela cultura, não aceitam esse tipo de comportamento. No mesmo período estava no ar a telenovela A Lua me Disse (2005) de Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa. A novela contou com mais três personagens gays.
A última novela do horário das nove horas foi Páginas da Vida (2006), de Manoel Carlos. Nessa produção o dermatologista Rubens (Fernando Eira) e o músico Marcelo (Thiago Picchi) viveram um relacionamento maduro e estável. Eram casados, bonitos, bem-sucedidos, apreciavam arte e mantinham um bom relacionamento com todos, inclusive com a família. O casal gay da atual novela do horário, Paraíso Tropical, de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, segue esse mesmo padrão. A dupla é interpretada pelos atores Carlos Casagrande e Sérgio Abreu.
Formas de tematização, Apolo e Dionísio
Motter & Jakubaszko (2005), em artigo enviado ao V Encontro de Núcleos de Pesquisa da Intercom, definem os tipos de focalização de temas em telenovelas.
1) Quando o debate é intenso, a discussão pode ser frontal, ocupando grande espaço na trama (tematização), ou lateral, menos aprofundada (denúncia).
2) Se o assunto não possui uma importância central na história, pode ser apresentado como:
- discussão (a telenovela conversa com o público sobre determinado tema, normalmente através de conversas / reflexões de personagens);
- crítica de valores, comportamentos, sem que, necessariamente, o tema seja reiterado; normalmente, também através de conversas/reflexões de personagens;
- merchandising social, inserções pontuais em núcleos e tramas de menor importância na novela. Pode apresentar caráter claramente didático.
3) Por fim, o dramaturgo pode optar por apenas mostrar um tema sem discuti-lo, lembrar acontecimentos específicos da “vida real” através de diálogos entre os personagens ou esboçar questionamentos ao senso comum.
Observamos que o relacionamento entre Tiago e Rodrigo, em Paraíso Tropical, não se enquadra em nenhuma dessas categorias. A identidade sexual de ambos, o fato de viverem uma união estável, é apenas posto, sem panfletarismos ou alarde, não chegando a caracterizar uma temática da trama.
Essa é nova tendência na representação da homossexualidade em novelas da Rede Globo. O casal homossexual é representado sem extravagância ou caricatura. Na verdade, ele é criado para ser mais um dentro do enredo. Sobre o assunto, Ricardo Linhares afirma: “O casal homossexual é um casal como outro qualquer da novela. Não é um casal polêmico nem a novela vai levantar bandeira sobre a homossexualidade. Eles são aceitos com naturalidade pela sociedade, pelo círculo de amigos e no trabalho”.
Entretanto, apesar da intenção de pôr esses personagens como normais e aceitos sem problema algum, o que se tem é um casal que se pode chamar de “quase perfeito”. Isso porque, na tentativa de não gerar polêmica ou tratar de questões como um preconceito social, acaba-se por deixar escapar também da tela as dificuldades corriqueiras que qualquer casal, seja ele hetero ou homossexual, enfrenta.
Nesse novo tipo de concepção, tem-se representado um ideal de perfeição – almejado por todos os casais – que vai desde a beleza física até a maneira carinhosa e amiga com que os personagens se relacionam entre eles e com os outros na novela. Os personagens gays são pessoas independentes, financeiramente bem-sucedidas, íntegras, politicamente corretas (se contrapondo aos vilões da novela), seguras, jovens, fiéis, bem resolvidas, com relacionamentos ideais. Eles não possuem trejeitos, não são afeminados; consolam, ajudam e acolhem personagens de diversos núcleos da novela e estão sempre de bem com a vida.
Em meio a personagens com dramas pessoais, frustrações, expectativas, eles surgem como porto seguro, um ideal de perfeição apolínea[1]. A vida deles é, enquanto a dos outros personagens, mesmo os igualmente coadjuvantes, caracteriza-se como um eterno vir a ser, repleto de reviravoltas.
Para o ator Carlos Casagrande, essa é uma das melhores maneiras de falar de hossexualidade, sem, contudo, tê-la como principal aspecto da trama. Ele diz: “Na verdade, não é tratado o homossexualismo (sic) dentro da novela. É tratado sim, de um casal gay estar inserido na sociedade. Então, o casal ajuda a contar a história da novela, mas não se fala do relacionamento dos dois. Eles estão inseridos na comunidade, na sociedade, e não têm, absolutamente, nenhum tipo de preconceito, nenhum tipo de discriminação (...). Então, isso acaba ficando muito natural. (...) Acredito eu, (...) que há uma influência, talvez, pra sociedade tratar também os homossexuais iguais; pra que dê uma quebra, um pouco, no preconceito da sociedade, que nós temos e não adianta negar”. O ator Sérgio de Abreu concorda. “A homossexualidade é mais um dado da vida desses personagens, e não o dado”, diz.
Se entre autores e atores as opiniões são bem sintonizadas, entre o público não há consenso. Sites como o AthosGLS e GLS Planet, em matéria veiculadas em seus endereços, apóiam a iniciativa. Já a Associação da Parada do Orgulho GLBT de Goiás (APOGLBT-GO), reivindica realismo nas tramas. "A falta de abraços, beijos, carícias e simulações sexuais por debaixo dos lençóis, como acontece com os casais heterossexuais da novela, mesmo quando o casal gay está sozinho, em uma novela das nove horas da noite, demonstra que a ficção do folhetim está muito longe da realidade vivenciada pelos homossexuais do país. Gays também merecem um Paraíso tropical”, afirma Léo Mendes, coordenador da Associação da Parada, em ofício enviado aos diretores de Paraíso Tropical. Acerca desse assunto, apesar de afirmar que filmaria um beijo gay, o interprete Sérgio Abreu comenta: “É uma forma de fugir do estereótipo e é uma forma também das pessoas perceberem as sutilezas do mundo dos homossexuais. E eu acho que as sutilezas são as coisas mais bonitas; escancarar tudo perde a magia, perde o encanto”.
Mesmo com tanta divergência de opiniões, vale ressaltar que esse tipo de representação vem, cada vez mais, ganhando força e expressão, principalmente, nas telenovelas exibidas às vinte e uma horas da Rede Globo. De fato, essa é uma tendência que tenta agradar a todos: pretende, por um lado, não escandalizar indivíduos socialmente conservadores e, por outro, representar os homossexuais[2].
Como opção ética e estética, a representação de Tiago e Rodrigo é o extremo oposto do camp, uma representação do dionisíaco.
Como comportamento, o camp pode ser comparado à fechação, à atitude exagerada de certos homossexuais, ou simplesmente afetação. Já como estética, o camp estaria mais na esfera do brega assumido, sem culpas... (LOPES, 2002, p. 95)
É a capacidade de perceber o mundo como teatro[3], uma introdução da ficção na vida cotidiana, redimensionando o espaço público pelo ludismo das massas. Essa “sensibilidade gay” não está, necessariamente, vinculada a homossexuais, mas é uma conexão (via paródia, pastiche e exagero) entre hetero e homossexuais. O camp é filho legítimo da sociedade simulacral (LOPES, 2002).
As conseqüências do simulacro como eixo de uma época (...) implicam o declínio de parâmetros como real / irreal (...). As imagens midiáticas permeiam de tal forma o mundo que se tornam referências tão ou mais básicas de informação do que o cotidiano (...). A realidade se torna um jogo de imagens em substituição frenética”. (Idem, p. 105-106)
A expressão máxima do camp é o travesti, “personagem alegórico de uma modernidade inconclusa e em crise” (Idem, p. 101). Ele é caracterizado não por uma dualidade homem/mulher, mas por um impulso à simulação, à estética do artifício, que “não só aparece como dissimulação, mentira, mas desconstrói a dualidade entre natureza e cultura” (Idem, p. 109).
A estratégia de comunicação / sedução representada pelo camp não deve ser confundida com algumas representações feitas, principalmente, em programas humorísticos. Usaremos como exemplo o Zorra Total, exibido pela Rede Globo às noites de sábado desde março de 1999. O programa já passou por diversas etapas; atualmente, é composto por diversos quadros com personagens fixos. Zorra Total é conhecido por seu humor popular, que se vale de clichês, situações repetitivas e chavões para provocar risos.
Personagens homossexuais aparecem com alguma freqüência no humorístico. São construídos tendo por base uma série de estereótipos, tanto comportamentais como visuais, sendo facilmente reconhecíveis para o público. Essa forma de representação não destoa do resto do Zorra Total, que costuma receber muitas acusações de desrespeito às mulheres tanto quanto aos homossexuais. A atração é freqüentemente alvo de protestos por parte do movimento gay e de associações de direitos humanos. Em 2005, diversas organizações GLBTT entraram com uma ação no Ministério Público para remover quadros ofensivos do ar.
Um dos personagens gays do programa era Alfredinho, interpretado por Lúcio Mauro Filho. Os esquetes sempre apresentavam o personagem, afetado e efeminado, junto com o pai, Fernandinho. Fernandinho sempre tentava fazer Alfredinho se interessar por mulheres, mas este só pensava em moda, maquiagem, balé ou qualquer outro assunto considerado feminino ou gay. O quadro sempre terminava com Fernandinho dizendo o seu bordão: “onde foi que eu errei?”
Mais recentemente, Zorra Total contava com a participação do ator Rodrigo Fagundes como Patrick. Um personagem que explora o clichê do gay afetado, Patrick tinha, porém, um diferencial: apesar de iniciar o seu quadro como frágil vítima de chacota dos “machões” do programa, ele termina por demonstrar uma personalidade violenta, pronto para revidar os desaforos. Seu bordão (todos os personagens de Zorra Total têm pelo menos um bordão) é, curiosamente, “olha a faca!”.
Patrick e Alfredinho são facilmente reconhecíveis pelo público como homossexuais, devido a uma caracterização estereotipada dos seus comportamentos e trejeitos. Os personagens raramente demonstram desejo sexual, entretanto. Sabe-se da sua orientação por causa dos sinais externos, mas em quase nenhum momento uma possibilidade de relacionamento se faz presente.
Apesar dessa estetização da sexualidade, tais personagens não podem ser caracterizados como camp de fato.
...o camp expressa não o desejo de afirmação do estereótipo envelhecido da bicha louca, mas o desejo de empreendermos todos, das mais diversas sexualidade e sensualidades, uma nova educação sentimental, não pela busca da autenticidade de sentimentos cultivados pelos românticos, mas pela via da teatralidade... (Idem, p.113)
O que se vê na maioria dos humorísticos brasileiros são estereótipos surgidos não de um conhecimento, um entendimento e mesmo um afeto (por que isso, no camp, é essencial) pela cultura gay, mas de idéias pré-concebidas vindas de uma observação distante, “de fora”, que se recusa a olhar além do óbvio e compreender a lógica interna que rege idéias e comportamentos.
Outro personagem/quadro que apresentado por Zorra Total era o Pitbicha, interpretado por Tom Cavalcante. Sua “molde” parece ter sido tirado da banda Village People: ele veste jaqueta e boné de couro, tem um bigode à Freddie Mercury e usa acessórios com toques sado-masoquistas. Ao contrário dos dois personagens citados anteriormente, praticamente assexuados, Pitbicha é quase “hipersexuado”: assedia todos os homens do programa e o seu bordão, que durante o breve período em que o seu personagem fazia parte do humorístico entrou para a cultura popular, é “cuecão de couro”. Representa um outro clichê sobre a cultura gay: o homossexual masculinizado, de voz grossa, pêlos fartos e apetite sexual voraz. O próprio nome do personagem deixa claro as aparentes contradições de sua figura: vem de pitboy, rapaz freqüentador assíduo de academias, agressivo e preconceituoso, que vive se envolvendo em brigas pelo prazer de bater.
Pitbicha seria o personagem que mais se aproximaria de uma “caricaturização de dentro” da comunidade gay. Ele faz parte de um imaginário sobre subculturas como biker (motoqueiros), BDSM (Bondage/Discipline Domination/Submission Sado-Masochism) e Bears (ou ursos - gays ultra-masculinos). Ainda assim, o que se vê não é tanto uma caricatura dessas subculturas, mas a apresentação de clichês já processados pelo mainstream e tornados lugares-comuns através da circulação massiva de certas imagens: as fantasias do Village People, o bigode de Freddie Mercury, os adeptos da cultura leather (fetiche por couro) das paradas gays pelo mundo.
Em jeito de conclusão
Apesar de apresentarem imagens diferentes sobre os homossexuais, Zorra Total e Paraíso Tropical têm em comum o fato de serem produtos voltados a um público massivo. Na televisão, que pretende atrair as mais diversas pessoas, é raro se representar o que não é normativo na sociedade. Comportamentos de nichos, em geral, têm tão pouco espaço na mídia massiva quanto inovações estéticas ou trilhas sonoras experimentais. Na busca pela representação dos homossexuais (que, obviamente, também são telespectadores), tateia-se entre o exótico, o estranho, e a quase invisibilidade, como no caso de Tiago e Rodrigo na atual novela das nove.
E se é difícil agradar tantos públicos, é importante lembrar que os homossexuais também divergem quanto a melhor forma de serem representados[4]. São diversos os comportamentos, estilos de vida, gostos, interesses (como, aliás, o são em toda a sociedade). O caminho, talvez, seja o de um equilíbrio dialético, um Yin e Yang, entre o Dionisiáco e o Apolíneo, entre a representação “politicamente correta”, mas insossa, e a extravagante, cheia de vida, mas com existência trágica, vista como engraçada e facilmente caricaturável. Esse caminho parece estar sendo traçado agora, em Paraíso Tropical, através da chegada uma nova personagem, Carolina.
Na Copacabana da novela, a síndica de um edifício quer proibir a entrada de travestis e transformista no prédio. Estes, quando visitam seus amigos no prédio, recebem ataques preconceituosos da síndica. Esse é o estopim para uma série de confusões e cenas engraçadas, em que Carolina (interpretada pela transformista Rogéria)[5] se une a outras personagens da trama para se “dar uma lição” na “megera”.
Tratar de preconceito com humor: nada mais politicamente correto e, diga-se de passagem, muito mais novelesco e saboroso.
BIBLIOGRAFIA
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LINHARES, Ricardo. Autor diz que Paraíso Tropical mostra um Brasil sem maquiagens. Entrevista concedida ao site O Fuxico. Disponível em: <http://ofuxico.uol.com.br/Materias/Noticias/2007/02/42434.htm>. Acesso em: 01 ago 2007.
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[1] O apolíneo, como representado por Nietzsche em O nascimento da Tragédia, representaria equilíbrio, moderação, regras, civilidade, aparências. Já o dionisíaco seria devir, exagero, impulso, irracionalidade.
[2] O seriado americano Os Assumidos (Queer as Folk) também se propõe a representar os gays como pessoas comuns, sem utilizar símbolos usualmente relacionados à imagem do homossexual, como gestos, roupas e modos de falar. A grande diferença em relação às telenovelas brasileiras, porém, é que os personagens são retratados no cotidiano (relações de família, trabalho, doenças, romances, etc), sem deixar de contemplar o erotismo. “Beijos, abraços, relações sexuais não são somente insinuadas, mas representadas tal como é feito desde sempre nas representações ficcionais envolvendo heterossexuais. E esse é um dos aspectos que mais causam polêmica no referido seriado” ( ZANFORLIN, 2005, p.03).
[3] Nunca é demais lembrar que Dionísio (ou Baco) também é conhecido como deus do teatro...
[4] LOPES (2002) cita, como uma das faces desse fenômeno, o crescente “bom mocismo” das organizações homossexuais. Muitas delas, atualmente, lutam mais por uma integração ao status quo (uma “assimilação gay de classe média” ) do que por uma sociedade multicultural.
[5] Curiosamente, como estratégias para dar realismo à temática, os personagens travestis de Paraíso Tropical são representados por “travestis na vida real”.
Um comentário:
Angela!! De onde veio o "Lins"?
Sou eu! Andréa Maciel! Ou Andréa Aquino, se preferir! rsrsrsrsrsrsrs
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