domingo, 9 de outubro de 2011

"A política de Antonieta", por Matheus Costa Ferreira


Sofia Coppola ao gravar o filme Maria Antonieta (Marie Antoinette – 2006) não pretendia falar sobre política e sim mostrar a vida de uma adolescente vivendo em um ambiente completamente novo e opressivo, porém, para muitos, o simples fato de Coppola humanizar a tão odiada monarca francesa já gera um dissenso: quem era Maria Antonieta? Uma Rainha má e corrupta ou uma jovem tentando deixar sua vida mais leve? Como diria o filósofo francês Jacques Rancière, uma arte que gera dissenso é política, logo, este filme pode ter deixado de lado a situação social da França no período de sua Revolução, mas isso não o inibe seu fator político.

O filme começa quando Maria Antonieta (Kirsten Dunst) aos 14 anos, está saindo de seu país natal, a Áustria, para se casar com o futuro Rei Francês, Louis XVI (Jason Schwartzman) as vésperas da sangrenta Revolução Francesa. A partir daí vemos uma adolescente vivendo ao lado de um Rei indiferente, em uma corte tumultuada de escândalos e intrigas, além da enorme pressão exercida pela jovem para consumar o seu casamento com o ato sexual, que o Rei reluta em praticar, além da obrigação de dar um herdeiro ao trono. O filme termina quando a Revolução chega ao auge e os reis franceses fogem, porém o real fim da Rainha é a sua prisão durante esta fuga e sua condenação a morte pelo seu próprio povo. Nesse meio tempo, é clara a posição de Coppola ao lado da Rainha, mostrando um lado até então desconhecido de Maria Antonieta: uma jovem com sua vida completamente controlada, sob pressão de vários âmbitos sociais e vítima de fofocas e calúnias, isso fica claro quando a diretora faz questão de gravar uma cena em que a própria Antonieta nega ter dito a famosa frase: “se não tem pão, que comam brioches”.

Podemos perceber então pelo menos três dissensos causados pelo filme tem uma causa em comum: um deles trata-se do modo como Coppola conduz uma história que está presente não só no filme “Maria Antonieta” mas em todos os outros (“As Virgens Suicidas”, “Encontros e Desencontros” e “Um Lugar Qualquer”) e os outros dois tratam-se da trama do filme.

Temos o fato da direção ser de uma mulher que é conhecida por seus filmes silenciosos, com poucos diálogos e um ritmo lento, o qual incomoda muitas pessoas, principalmente aquelas acostumadas com os filmes com muitas coisas acontecendo a todo momento. A lentidão de seus filmes se deve ao fato de Sofia aprofundar-se no psicológico de seus personagens e não nos fatos ocorridos, em “Maria Antonieta” isso se torna óbvio por se tratar de uma história real com muitos e muitos fatos polêmicos ocorrendo simultaneamente à monarquia opressiva daquela época, enquanto isso ela foca em detalhes “insignificantes” no ponto de vista histórico. Pergunta-se, então, analisando muito minuciosamente os fatos: no que devemos prestar mais atenção em nossas vidas e no julgamento alheio? Ao que acontece internamente ou externamente às pessoas?

O outro dissenso trata-se da crítica à obra, onde reclama-se de não apresentar as cenas da condenação e morte da Monarca. Remetemos então a mesma teoria da psicologia da personagem versus os fatos ocorridos, neste caso, sua morte. Estas são as principais criticas negativa.

Por outro lado, encontramos um filme muito colorido, vencedor do Oscar pelo seu belo figurino, com uma modernidade incrível, quase inédito nos filmes de época, isso fica evidente com sua trilha sonora composta principalmente por baladas rock e pop dos anos 80. O mais interessante é o modo como a imagem temporal é transmitida pelo olhar da diretora: o passado está de volta só que de outra forma (provavelmente com muito mais cor e vida). A memória de algo já contado é recontado é visto de forma muito original de modo muito especifico em sua falta de amplitude: são 23 anos de história passados em duas horas sem se perceber a mudança temporal no plano narrativo onde se trata da consciência humana da personagem.

As polêmicas em torno do filme são muitas; e polêmica gera dissenso, que gera política. Sofia criou arte sem querer criar política, e acabou que criou política junto com a sua arte.

Jacques Rancière

Um comentário:

Luma Dias disse...

Eu gostei da diretora ter mostrado esse lado de Maria Antonieta,como apenas uma jovem tentando fugir do opressivo meio em que vivia!gostei do filme!e o figurino é uma maravilha mesmo!