sexta-feira, 24 de junho de 2011

"O medo devora a alma", por Jéssica Fantini



O medo devora a alma (Angst essen Seele auf) é um filme de 1974, dirigido por Rainer Werner Fassbinder. O diretor alemão faz uma critica ao racismo, à xenofobia, à hipocrisia e a outros aspectos referentes aos preconceitos do pós II guerra. O grande diferencial do filme é a utilização dos componentes melodramáticos, através do casal Emmi e Ali, para retratar temáticas que, infelizmente, ainda são extremamente recorrentes na sociedade.

O próprio Fassbinder afirma que o filme é baseado no modelo melodramático desenvolvido por Douglas Sirk. Na opinião de críticos, como a teórica Laura Mulvey, o cineasta conciliou enredo e recursos técnicos ao clássico “Tudo que o céu permite”. As relações entre eles ficam claras pela história com o intuito moralista, pelo enfoque exacerbado a encenação, como nas passagens do espelho, e até pelo enquadramento de planos simétricos em ambos os filmes. Os pontos divergentes na obra de Fassbinder são os momentos melodramáticos intercalados de “quebras” do sentimentalismo e a pouca utilização de técnicas apelativas do gênero, como a trilha sonora emocionante que nesse caso é quase ausente.

A narrativa é o ponto mais interessante. As características de raça, cultura e faixa etária que comumente são rechaçadas na sociedade estão presentes no casal. Emmi (Brigitte Mira) é uma viúva idosa que trabalha como zeladora e Ali (El Hedi Ben Salem) é um operário marroquino, que depois do trabalho vai sempre a um bar especifico para imigrantes árabes. A união dos dois acontece mais pela solidão que por paixão, pois ambos já eram excluídos socialmente antes do encontro. No entanto, ao encontrar uma companhia, eles criaram um “universo” insuportável de descriminação, que é sentido pelo espectador todo o tempo e fica evidente nos diversos planos que enfocam a reação dos outros na aparição do casal. Vale salientar que, como o próprio nome do filme destaca, o preconceito da sociedade causa medo e receio nos personagens que chegam a renegar o sentimento devido à opressão sofrida.

Outro fator é a imagem de Berlim no filme. Realizado na Alemanha ocidental, o filme mostra que os personagens são diretamente afetados pelo ambiente do pós guerra. Fassbinder faz jus à imagem de ícone do cinema novo alemão, retratando a crise urbana através de tipos que conservam as ideologias pregadas pelos preconceitos nazistas em um quadro de crise.

A carga dramática é destacada também pelo aspecto visual. No cenário é determinante o azul, o amarelo e o vermelho, ou seja, as cores primárias e o propósito parece ser intensificar o drama pelo estimulo à percepção das imagens. A fotografia feita por Jürgen Jürges, de certa forma, retrata a força de tudo que cerca os personagens principais, representa os fatores externos que submetem o casal e influenciam nas suas decisões. Nesse contexto o cenário representa a força, tanto da sociedade quanto do medo dos personagens por serem vitimas da pressão social.

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