Diante de tantas
transformações sociais e ideológicas que marcaram a década de 60, era de se
esperar que o musical americano, calcado em sua fórmula conservadora de
entretenimento familiar, fosse perdendo fôlego entre o público. Por outro lado,
a época já sinalizava o ideal contemporâneo que se manifestou entre as artes, surgindo
assim obras que incorporavam uma abordagem estética nostálgica. Filmes como
Grease de 1978, evidenciavam essa referência à década de 50 com a imagem de
John Travolta vestindo jaqueta de couro assim como Marlon Brando ou James Dean
eram vistos no auge de suas carreiras e juventude. Grease lançou na indústria a
cantora e atriz Olivia Newton-John, que em 1980 protagonizou outro sucesso
musical chamado Xanadu.
Em Xanadu, ela
interpreta Kira, uma das sete deusas filhas de Zeus, que tem como objetivo estimular
nas pessoas a ambição de realizarem seus sonhos. Seu alvo é o artista Sonny
Malone (Michael Beck), que se encontra entediado com seu trabalho de reproduzir
em pinturas capas de discos de bandas. Kira aparece para Sonny como uma
divindade e o deixa desorientado com sua beleza e suas aparições misteriosas.
Sonny acaba conhecendo por acaso Danny McGuire, interpretado por Gene Kelly, astro
dos musicais clássicos da década de 40, um empresário aposentado que vê em
Sonny a chance de uma parceria que os tire desse estado de inércia. Kira os
inspira a abrirem juntos a discoteca que dá nome ao filme, enquanto ela e Sonny
formam um casal apaixonado que desafiará as regras dos deuses, o que criará um
obstáculo em seu relacionamento.
O filme, apesar da narrativa calcada no clichê
romântico, reúne aspectos interessantes que merecem destaque. O primeiro é
enxergar o filme como uma ode nostálgica ao gênero musical, bastante
evidenciado pela presença de Gene Kelly e seu singular personagem que em vários
momentos da narrativa manifesta seu saudosismo para com a década de 40. Para os
que vivenciaram a década de 80, o filme é um espetáculo kitsch com uma explosão
em cores neon, tão própria à década, além das músicas que se tornaram hits.
Xanadu, por sinal, é um perfeito exemplar de como o cinema mainstream estava
próximo à indústria fonográfica, responsável pelo modelo de publicidade que
ganhou força com o lançamento das trilhas sonoras dos filmes em formato físico.
Um fato curioso sobre essa questão é que a trilha sonora teve excelente
desempenho nas paradas da Billboard, apesar do fracasso de público e crítica do
filme.
Dirigido por Robert
Greenwald, ainda antecipa uma “estética MTV”, com seus números muito
semelhantes ao que seria popularizado pelos videoclipes que passaram a ser
produzidos no começo daquela década e incorporando um flerte com o cinema de
animação. Xanadu é o lugar de encontro de gerações e de celebração, um lugar à
prova de tédio que leva aqueles que lá se encontram a atingirem o nível máximo
de escapismo, é uma reverência ao poder do musical de transportar as pessoas
para uma dimensão lúdica, e é aí onde está seu valor simbólico.
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