Com a famosa música I Have a Dream, o filme musical Mamma Mia fecha as cortinas, ou melhor, passa os créditos finais da
produção do projeto que foi às telonas em 2008. Originalmente uma peça musical de mesmo nome, a adaptação para os cinemas foi dirigida por Phyllida Lloyd e escrito
por Benny Andersson e Björn Ulvaeus, os dois últimos vale destacar como grandes
ícones da música pop da década de 70, ao lado é claro de Anni-Frid
"Frida" Lyngstad e Agnetha Fältskog,
eles formavam o quarteto ABBA.
A peça na qual o filme foi baseado havia sido criada uma década antes
por Catherine Johnson para figurar em conjunto com músicas do grupo ABBA aos
moldes de uma opereta, ainda mais simples e mainstream. Interpretada nos palcos
de West End, em Londres, e na Broadway, em New York. O sucesso de bilheteria foi tanto que a gravação para
película era questão de tempo e planejamento. O enredo simples e as músicas com
marcações de fácil memorização, características do pop e da disco music fizeram
um enorme sucesso nos palcos, embora não sejam seguidores dos modelos
tradicionais de musicais da década de 30 e 60. A produção faz uso de uma batida
mais jovem agregada às músicas vibrantes e dançantes, como Voulez-Vous e Dancing Queen.
Cada cena apresentada ao longo do
filme mostra claramente a marcação de “atos”, episódios acompanhados de letras
que fazem o espectador acreditar que está presenciando um autêntico concerto
musical. Isso porque as músicas em evidência se tornam quase ou mais
importantes que o contexto em si. Foi um casamento construído para o sucesso
nos palcos. Entretanto o estranhamento que o público teve ao assistir nas telas
Maryl Streep, Pierce Brosnan, Julie Walters, Colin Firth, foi grande, pois a
expectativa para as canções era maior do que para as atuações, que entre os
citados é o dom genuíno. Com exceção de Amanda Seyfried, que interpretou
belissimamente Sophie, filha de Donna (Maryl Streep), o elenco deixou a desejar
nos momentos de soltar a voz.
A história tem seu foco narrativo na
dúvida de Sophie, que busca incansavelmente descobrir que é o seu pai
biológico. Donna, mãe de Sophie, viveu durante a juventude três romances, com
homens de personalidades bastante diferentes, quase que simultaneamente, com
diferença de dias de um caso para o outro. Quando Sophie descobre o diário da
mãe e lê sobre os três possíveis pais biológicos, ela decide convidá-los para a
ilha onde vivem, na qual o seu casamento com Sky irá ser celebrado. Sophie
sonha com o pai levando-a ao altar e por isso envia os convites para Bill
Anderson, Harry Bright e Sam Carmichael.
Uma das características que o musical
tenta provar paralelamente à narrativa principal é a da emancipação feminina e
independência ou ausência de necessidade de um homem para suprir certas lacunas
na vida de uma mulher, de uma mãe solteira e, inclusive, empreendedora. Contudo,
o tom suave e ligeiramente engraçado que certas cenas como a de Donna na “casa
das cabras” tentando consertar e remendar seus problemas enquanto espiona três
dos seus antigos amantes, chega a ser uma prova de que no íntimo ela deseja ter
algum companheiro.
Outras duas figuras que chamam
atenção pelas personalidades independentes ao longo do filme são as amigas de
Donna, não menos autossuficientes que ela própria, vivem sem homens e estão na
carreira dos 50 anos. Tanya está saindo do seu terceiro divórcio e mostra que
não deixa de aproveitar a vida e as vaidades que seus ex-maridos lhe renderam.
Rosie, “loba solitária”, é escritora e nunca foi casada, declara que não almeja
tal compromisso.
A força feminina é reforçada na cena
da música, quase hino, Dancing Queen, quando as três amigas Donna, Tanya e
Rosie, além de várias gregas que vivem na ilha, começam a percorrer os caminhos
tomando conta de todos os lugares, saindo das cozinhas e das obrigações
cotidianas de “donas de casa” para ganharem o mundo.
O empoderamento feminino também é
construído na relação mãe e filha de Donna e Sophie. Difícil pelo temperamento
aventureiro da filha e de preocupação da mãe, o relacionamento é apresentado de
maneira genuína e bela na cena em que Sophie se arruma para seu casamento.
Donna vem acalentar a criança que enxerga na filha e então recria um momento
nostálgico e terno com a música Slipping
Through my Fingers.
No final, a convivência com os três
namorados da mãe faz com que Sophie aceite cada um deles como parte dela e o
casamento não acontece, pois ela percebe que esse sonho era na verdade uma
projeção do desejo de Donna, que acaba casando com o homem por quem ela sempre
foi apaixonada, Sam.
O último momento do filme fecha como
começou, como um ciclo de sonhos, I Have
a Dream fecha as cortinas do cinema.
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