domingo, 10 de agosto de 2014

"Mamma Mia: um sonho produzido em músicas", por Marina Didier


Com a famosa música I Have a Dream, o filme musical Mamma Mia fecha as cortinas, ou melhor, passa os créditos finais da produção do projeto que foi às telonas em 2008. Originalmente uma peça musical de mesmo nome, a adaptação para os cinemas foi dirigida por Phyllida Lloyd e escrito por Benny Andersson e Björn Ulvaeus, os dois últimos vale destacar como grandes ícones da música pop da década de 70, ao lado é claro de  Anni-Frid "Frida" Lyngstad e Agnetha Fältskog, eles formavam o quarteto ABBA.

A peça na qual o filme foi baseado havia sido criada uma década antes por Catherine Johnson para figurar em conjunto com músicas do grupo ABBA aos moldes de uma opereta, ainda mais simples e mainstream. Interpretada nos palcos de West End, em Londres, e na Broadway, em New York. O sucesso de bilheteria foi tanto que a gravação para película era questão de tempo e planejamento. O enredo simples e as músicas com marcações de fácil memorização, características do pop e da disco music fizeram um enorme sucesso nos palcos, embora não sejam seguidores dos modelos tradicionais de musicais da década de 30 e 60. A produção faz uso de uma batida mais jovem agregada às músicas vibrantes e dançantes, como Voulez-Vous e Dancing Queen.

Cada cena apresentada ao longo do filme mostra claramente a marcação de “atos”, episódios acompanhados de letras que fazem o espectador acreditar que está presenciando um autêntico concerto musical. Isso porque as músicas em evidência se tornam quase ou mais importantes que o contexto em si. Foi um casamento construído para o sucesso nos palcos. Entretanto o estranhamento que o público teve ao assistir nas telas Maryl Streep, Pierce Brosnan, Julie Walters, Colin Firth, foi grande, pois a expectativa para as canções era maior do que para as atuações, que entre os citados é o dom genuíno. Com exceção de Amanda Seyfried, que interpretou belissimamente Sophie, filha de Donna (Maryl Streep), o elenco deixou a desejar nos momentos de soltar a voz.
             
 A história tem seu foco narrativo na dúvida de Sophie, que busca incansavelmente descobrir que é o seu pai biológico. Donna, mãe de Sophie, viveu durante a juventude três romances, com homens de personalidades bastante diferentes, quase que simultaneamente, com diferença de dias de um caso para o outro. Quando Sophie descobre o diário da mãe e lê sobre os três possíveis pais biológicos, ela decide convidá-los para a ilha onde vivem, na qual o seu casamento com Sky irá ser celebrado. Sophie sonha com o pai levando-a ao altar e por isso envia os convites para Bill Anderson, Harry Bright e Sam Carmichael.

Uma das características que o musical tenta provar paralelamente à narrativa principal é a da emancipação feminina e independência ou ausência de necessidade de um homem para suprir certas lacunas na vida de uma mulher, de uma mãe solteira e, inclusive, empreendedora. Contudo, o tom suave e ligeiramente engraçado que certas cenas como a de Donna na “casa das cabras” tentando consertar e remendar seus problemas enquanto espiona três dos seus antigos amantes, chega a ser uma prova de que no íntimo ela deseja ter algum companheiro.

Outras duas figuras que chamam atenção pelas personalidades independentes ao longo do filme são as amigas de Donna, não menos autossuficientes que ela própria, vivem sem homens e estão na carreira dos 50 anos. Tanya está saindo do seu terceiro divórcio e mostra que não deixa de aproveitar a vida e as vaidades que seus ex-maridos lhe renderam. Rosie, “loba solitária”, é escritora e nunca foi casada, declara que não almeja tal compromisso.
                    
A força feminina é reforçada na cena da música, quase hino, Dancing Queen, quando as três amigas Donna, Tanya e Rosie, além de várias gregas que vivem na ilha, começam a percorrer os caminhos tomando conta de todos os lugares, saindo das cozinhas e das obrigações cotidianas de “donas de casa” para ganharem o mundo.
           
O empoderamento feminino também é construído na relação mãe e filha de Donna e Sophie. Difícil pelo temperamento aventureiro da filha e de preocupação da mãe, o relacionamento é apresentado de maneira genuína e bela na cena em que Sophie se arruma para seu casamento. Donna vem acalentar a criança que enxerga na filha e então recria um momento nostálgico e terno com a música Slipping Through my Fingers.
         
No final, a convivência com os três namorados da mãe faz com que Sophie aceite cada um deles como parte dela e o casamento não acontece, pois ela percebe que esse sonho era na verdade uma projeção do desejo de Donna, que acaba casando com o homem por quem ela sempre foi apaixonada, Sam.
O último momento do filme fecha como começou, como um ciclo de sonhos, I Have a Dream fecha as cortinas do cinema. 

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