“My Fair Lady” de 1964 é uma adaptação da peça Pigmaleão de George Bernard Shaw, que antes de virar película esteve em cartaz na Broadway. O filme conta a história de Eliza Doolittle, vivida por Audrey Hepburn, uma vendedora humilde de flores que deseja entrar para a alta sociedade londrina. Para isso, terá aulas com Henry Riggins, interpretado por Rex Harrison, um estudioso de fonética que é desafiado pelo amigo, o Coronel Pickering, a transformar Eliza em uma jovem de alta classe. A trama se desenrola focada nas aulas, e na relação perturbada entre a aluna cabeça dura e o professor arrogante, hora mostrando a alta classe, hora a classe mais pobre. Também aparecem outros personagens, como o pai de Eliza que se orgulha de não trabalhar, e a governanta de Riggins que é solidária à jovem. No final, Eliza consegue se portar no Baile da Embaixada como uma verdadeira “lady”, mas o relacionamento dela com o professor não fica bem esclarecido.
Apesar de Audrey Hepburn ter conquistado o papel, era esperado que a protagonista fosse interpretada por Julie Andrew, que além de talentosa e experiente em musicais, dava vida à Eliza na Broadway e contracenava com Rex Harrison, que representava o professor no teatro e manteve o papel no cinema. A ficha técnica de “My Fair Lady” é repleta de estrelas da época. O que contribuiu para os oitos Oscar que ele ganhou na premiação de 1965, incluindo o de melhor filme, ator, figurino colorido e direção. O diretor George Cukor ganhou o troféu pelo seu trabalho original e o uso de equipamentos e ângulos inovadores.
O filme é dinâmico, com trocas de cenas rápidas e tem uma pitada de humor e de romance, mas se afirma no gênero musical pelas suas longas cenas de músicas e pelos figurinos bem elaborados e realistas. As músicas são bem colocadas e densas, fugindo um pouco do que era utilizado normalmente.
Outra característica marcante são as cores. Elas estão presentes em todas as cenas, nas roupas, na cidade, nas flores e nas frutas. A escolha da paleta de cores e a forma como elas foram empregadas são determinantes na composição dos personagens. As cores sóbrias representam a cidade com seus prédios, seu clima e sua poluição, e a população mais pobre, que trabalha nas ruas, que se suja. As cores alegres marcam a alta sociedade e o luxo que a cerca.
As gravações do filme foram todas feitas em estúdio, inclusive as externas que mostram as ruas da cidade. Os cenários buscavam expressar um tom realista, por meio de objetos característicos e bem colocados em cada cena. Como os lustres no salão do Baile da Embaixada ou os montes de areias em meio à construção que o pai de Eliza passa após ser expulso do bar. A própria Londres foi tipicamente retratada como uma cidade no início do século XX, cheia de prédios, obras e aspecto depressivo.
“My Fair Lady” é, como muitos filmes da década de 60, um filme transitório. É um musical, com músicas, danças, cores e figurino, mas deixa de lado as fantasias e os excessos que antes caracterizavam esses gêneros. O ilusionismo marcante dos anos 50 começa a ser substituído pela busca da realidade ou pelo “efeito do real”. Esse meio termo entre uma diegese fantasiosa e o real foi um ponto chave do filme e contribuiu para seu sucesso
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