O cantor de Jazz (The Jazz Singer, Alan Crosland, 1927) foi um filme
produzido pela Warner Bros, é considerado o primeiro filme falado da
história do cinema, na verdade, o termo mais apropriado seria o primeiro filme
sonorizado, pois ele tem pouquíssimas cenas onde são proferidas frases pelo
ator Al Jolson. Ele foi realizado com a tecnologia vitaphone que
possibilitou a sincronização de imagens e sons, o diálogo e a música eram
impressos na película.
Uma das frases mais lembradas do filme é : "Espere um minuto, espere
um minuto. Você ainda não ouviu nada”, de acordo com alguns críticos essa frase
é uma metáfora para o nascimento da fala no cinema. Uma frase verdadeira não
apenas para a diegese, mas para cinematografia, sabemos que depois de O
Cantor de Jazz os espectadores ouviram cada vez mais e até hoje não pararam
de ouvir.
O filme é um marco na história do cinema e muitas vezes é lembrado apenas
pela sua inovação técnica, algumas pessoas acham seu roteiro maçante, mas o
cantor de jazz também é muito importante pelo tema que aborda e pelo contexto
social no qual está inserido. A narrativa é centrada na história de Jack Rabinowitz filho de um
Judeu que é orador e cantor da sinagoga em que participa. Todo homem da família
Rabinowitz deve ser cantor das reuniões religiosas, pois recebeu um dom de
Deus, é uma tradição familiar que já ocorre há cinco gerações . Porém o jovem
Jack tem outro sonho, ele almeja ser um cantor burlesco, cantar músicas
populares como o jazz e ser famoso. A partir dessa oposição de interesses
(seguir seus sonhos ou a tradição familiar) o filme se desenvolve mostrando a
discriminação que o jazz sofria na década de 20.
O Jazz presente no filme
representa muito mais que um estilo musical, é uma música que tem sinônimo de liberdade,
que quebra com os valores e convenções sociais estabelecidas, é um estilo que
está à frente do seu tempo. O enredo do filme pode ser interpretado como um
separação entre as convenções antigas representadas pelas música e cultura
judaica e o novo mundo, o desconhecido e inovador representado pelo jazz de Al
Jolson. Muito pertinente é comparar a narrativa com o próprio filme, na diegese
e fora dela o tema é ruptura. Historicamente O Canto de Jazz foi um
divisor de águas entre o cinema mudo e o sonoro.
Essa obra de Crosland já mostra as
características e convenções de um novo gênero cinematográfico, o musical. Suas
técnicas narrativas ainda trazem vestígios do filme mudo,ou seja, ele é
acompanhado por intertítulos, mas a questão está na música que é o grande
centro da narrativa, assim como, os
números musicais cantados e dançados por Al Jolson que seriam muito comuns na
década seguinte. Além disso as músicas interpretadas no filme foram músicas
populares e incentivaram os estúdios a investirem nas trilhas sonoras,
evidenciando uma novo período do cinema. Desde então a música seria um produto
de lucro e de fácil comercialização para os estúdios e gravadoras.
A questão do blackface é outro importante aspecto que chama
atenção no filme. A estereotipagem dos negros pelos brancos teve origem nos
shows de minstrel no século XIX e continuou se propagando pelas demais formas
de artes como os shows de vaudeville, da Broadway e também no cinema. O
personagem de Al Jolson revela esse preconceito racial da sociedade
americana e dos estúdios
cinematográficos que não contratavam negros. Quando Jack está nos palcos ele
representa um cantor negro e por isso ele pinta a cara de preto, deixando a
parte perto da boca sem tinta para que os lábios fiquem mais grossos (uma forma
altamente caricata de representar o negro, mas muito comum nas primeiras
décadas do cinema). O momento onde fica mais evidenciado o blackface é
na cena que Al Jolson canta Mammy.
Todas essas considerações tornam esse filme memorável. O Cantor de Jazz
merece ser lembrado por suas inovações técnicas, mas também, por ser um marco
na inserção de musicas populares nos filmes, pelo retrato impregnado de uma
sociedade tradicionalista e arcaica, e por ser uma parte da história do jazz,
ser um ponta pé para sua ascensão nas próximas décadas. O primogênito do gênero
musical.
Um comentário:
Spike lee fez um filme que fala sobre isso de atores brancos pintando o rosto pra parecerem negros. só que nesse filme um ator negro de verdade Damon Wayans(da série Eu,a patroa e as crianças)é que se pinta de negro pra reforçar a idéia de discriminação racial e incomodar a platéia!Marcos Punch.
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