domingo, 3 de julho de 2011
Meia noite em Paris, de Woody Allen, por Bruna Belo
Em Meia noite em Paris, Woody Allen volta a fazer uso do fantástico, recurso que estava longe das suas obras desde Scoop (2006). Gil (Owen Wilson) vai a Paris organizar os preparativos para o seu casamento com Inez (Rachel McAdams). Ele está desiludido com o seu trabalho como roteirista em Hollywood, por isso quer se tornar um escritor e acredita que esta é a cidade ideal para recomeçar a sua vida e lhe dar inspiração. Durante uma de suas caminhadas pela noite parisiense a fim de buscar “luz”, como num conto de fadas, ele pega carona com desconhecidos e vai parar nos anos 20.
A magia, em vez de acabar, começa à meia-noite, quando esse antigo carro para em frente a uma escadaria nas escuras ruelas parisienses e o leva ao encontro de famosos artistas dos loucos anos 20, como: F. Scott e Zelda Fitzgerald, Cole Porter, Hemingway, Gertrude Stein, Picasso, Dali, Man Ray e Buñuel.
Owen Wilson consegue interpretar o famoso personagem neurótico de Woody Allen tão bem quanto o diretor, ele absorveu todos os trejeitos e entonação, reclama de praticamente tudo, não se sente adequado ao mundo, é escritor e acha que a mudança de vida e a arte são a solução para todos os seus problemas e o seu vazio existencial.
Allen está mais leve, apesar dos seus temas continuarem densos e psicanalíticos. Todos os seus problemas habituais são tratados de forma mais simples, maleável, nesse filme, talvez pela poesia natural da cidade, pelo clima de nostalgia ou pela terna mensagem que a obra traz: não importa quão bom foi o passado, é no presente onde vivemos e onde temos nossas melhores possibilidades.
Paris é mostrada de forma poética e apaixonada, de forma semelhante à Nova York de Manhattan (1980) – os takes de diversos locais da cidade na seqüência de abertura lembram muito o filme de 1980. A cidade, junto com toda a sua história, é a protagonista do enredo, o fio condutor, sem ela nada na trama seria possível.
Woody Allen é apaixonado por Paris, assim como é por Nova York, e há muito tempo tinha o desejo de fazer um filme inteiramente rodado lá. Essa paixão é passada ao espectador, que sai da sessão renovado e cheio de esperanças. O diretor atinge o seu objetivo, pois, como ele mesmo disse: “Espero que o público, especialmente o francês, receba o filme com o espírito que eu estava quando o realizei, uma espécie de love affair com Paris”.
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