segunda-feira, 4 de julho de 2011

Annie Hall, por Pethrus Tibúrcio Cavalcanti da Silva



Noivo neurótico, noiva nervosa é tudo sobre o amor e tudo sobre a cidade. O relacionamento entre Alvy Singer e Annie Hall nasce, decorre e, por fim, termina entre edifícios e multidões. Suas personalidades e histórias são construídas a partir de onde eles nasceram e de onde vivem: Alvy, lunático criador de teorias da conspiração, é o típico new yorker e Annie, usuária casual de drogas relaxantes, prefere a tranquilidade do campo.

Sendo o personagem principal um comediante, o filme abre com duas piadas, uma que diz "Não quero fazer parte de nenhum clube que me aceite como membro" e outra que fala do quão efêmera e trágica é a vida. Alvy é, claramente, um pessimista e deixa isto claro quando diz que, para ele, as pessoas são dividas em horríveis e miseráveis.

Woody Allen brinca com as particularidades do romance durante o filme, quando, por exemplo, ele cria um diálogo onde o espectador ouve o que o personagem fala e, ao mesmo tempo, “lê” seus pensamentos, mostrando a falsa segurança das pessoas dentro de uma relação. Depois, quando surgem as crises conjugais, ele separa o espírito da personagem do corpo e cria um diálogo cômico acerca da alienação de Annie Hall durante o sexo.

Este é, talvez, o filme mais autobiográfico de Woody Allen. Rompendo com a ideia de um tempo cronológico e revestindo o filme de referências psicanalíticas, Woody quebra o convencional quando funde passado e presente numa dimensão só e cria uma dicotomia entre a alma e o corpo na busca de um entendimento de ações anteriores ou decorrentes.

A memória é completamente não-estática e explorada o tempo todo no filme. Os personagens revivem, tentam alterar, entender e até, recriar, momentos do passado. Alvy procura vivenciar o romance com Annie com outra mulher fazendo as mesmas coisas que eles faziam e, mesmo depois dos 40 anos de idade, eventos ainda eram explicados pela infância, como a cena do “bate-bate” na Califórnia.

O personagem é completamente vinculado à cidade e, ainda mais, à cultura dela. Durante o filme é notável como estereótipos são criados em cima de Nova Iorque e da Califórnia e fica clara a relutância de Alvy, em seus sintomas físicos, ao sair da sua zona de conforto. Mas, o momento-chave nessa relação amor-cidade se dá quando Annie, fascinada pela Califórnia, declara Nova Iorque uma “cidade morta”. Sem estar disposto a largar o Upper East Side, Alvy rompe o namoro com Annie. Mas, mesmo nos últimos segundos de filme, quando todos os personagens saem de cena, Nova Iorque continua lá.

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