domingo, 7 de novembro de 2010
Zérois: Ziraldo na tela grande, por Paula Riff
Dentre as mais variadas formas de expressão da arte - incluindo o cinema, a música e o teatro - a pintura talvez seja a menos acessível delas. Principalmente se tomarmos como foco o público infanto-juvenil.
Algo que sempre me causou intriga é essa relação do público mais jovem, especialmente crianças, com a arte. Qual a idade mínima que um indivíduo supostamente deve ter para apreciar a arte? É certo que, para dar origem a uma obra de arte, qualquer que seja a forma de expressão, são necessárias certas habilidades técnicas, o que, na maioria das vezes, não estão ainda muito bem desenvolvidas nas crianças. Entretanto, a incapacidade de criar a arte não exclui a capacidade de apreciá-la.
Acredito que todo ser humano nasce com a necessidade de arte, é inerente a nossa espécie. E a busca pela sublimação começa desde cedo, mesmo que inconscientemente. Entretanto é difícil ver alguma exposição de artes plásticas voltadas para o público infantil.
A exposição “Zérois: Ziraldo na tela grande” acaba com essa negligência e cumpre um papel social fundamental ao incluir esse público ávido dentro dos museus e exposições artísticas. Todavia, a exposição não se limita ao público infantil. Tomando como temática os heróis de quadrinhos norte-americanos, os quadros de Ziraldo agradam também o público adulto pois trabalha a todo momento com a referência, a paródia, o pastiche e o nostálgico.
Dentre as 44 obras expostas, Ziraldo faz referências à expressionistas como Salvador Dalí com o quadro “O nascimento do homem novo” (fig. 01) e a artistas da pop art como Andy Warhol com os quadros “Super- Warhol n°1 – 6” (fig. 02) e “Wonder Woman Warhol n°1 - 6” (fig. 03). É interessante a intertextualidade que a mostra mantém com a pop art, citando obras dos seus autores mais notórios e utilizando os mesmos meios estéticos visuais e o mesmo espírito irônico e subversivo.
A pop art surgiu como consequência do acelerado processo de desenvolvimento industrial e o consequente crescimento da sociedade de consumo. A arte se apropriou de elementos dessa mesma sociedade, transformando-os em elementos estéticos: publicidade, humor, história em quadrinhos, tudo isso faz parte da sociedade de consumo; faz parte, portanto, da arte.
A pop art é um movimento artístico, por sua própria natureza, polêmico. Desde sua origem foi alvo de críticas por autores que afirmavam que o caráter superficial e efêmero das obras desse movimento não poderiam ser consideradas como arte.
Ao olhar desatento, os quadros de Ziraldo poderiam se encaixar nessa superficialidade. Entretanto, através das cores e formas simples, Ziraldo aproveita para ironizar e criticar estereótipos e o papel da mulher na contemporaneidade como nos quadros “A verdadeira mulher maravilha” (fig. 04) e “Os homens continuam os mesmos”. (fig. 05)
As crianças são muito sensíveis e criativas, portanto, o desafio não está no olhar das crianças sobre a arte, mas sim, no olhar do artista sobre esse mundo lúdico-infatil. Fazer uma arte que entre em contato com o mundo lúdico da infância e o exprima a ponto de provocar uma identificação com os seus participantes não é uma das tarefas mais fáceis. Sem nenhuma surpresa, Ziraldo concluiu muito bem a sua missão como autor e ilustrador infantil consagrado sem deixar de surpreender o público adulto com sua obra contemporânea.
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