quarta-feira, 5 de setembro de 2007

"Ensaios Dialógicos" por Socorro Liberal e Caio Monte


Nova minoria
Maria Socorro Liberal

Tem se percebido em Recife o surgimento de grupos de jovens em periferias que se reúnem com o objetivo de realizar ações dentro de suas “comunidades”[1]. Seu objetivo central é modificar o estigma de violência, sempre associado às favelas e a seus moradores. Enxergam a grande mídia como propulsora de tais estereótipos, visto que se detém somente sobre a criminalidade presente nos locais, espetacularizando-a em muitos casos. A principal luta de tais grupos pelo poder está relacionada à informação: “O poder está relacionado com a representação: que representações têm autoridade cognitiva ou asseguram hegemonia, quais as que não têm autoridade e não são hegemônicas”. (BEVERLEY apud Prysthon: 2006). Nada mais coerente no atual contexto, quando a mídia desempenha a função de principal mediadora social. (PAIVA: 2005).
Seguindo o arcabouço teórico de SODRÉ (2005), defende-se aqui que estes grupos constituem uma nova forma de minoria. O conceito se refere a um lugar, ou topos, “um campo de fluxos de polarização de turbulências, conflitos, fermentação social” (SODRÉ: 2005, 12). Ou seja, um espaço comum de identificações geradas por semelhanças de vivências sociais, que produz um “impulso de transformação”. Dentro da luta contra-hegemônica, a minoria funciona como um “dispositivo simbólico”, uma força de contestação, com “intencionalidade ético-política”, do discurso estabelecido (prenhe de estereótipos).
No caso que aqui se pretende tratar, dos grupos de resistência de jovens da periferia, diferentemente das outras minorias já reconhecidas como tal (negros, mulheres, homossexuais), o estigma que se lhes associa não possui diretamente referência física. O que distingue o morador de periferia é estritamente relacionado a sua imagem, ao universo simbólico que lhe abarca: o lugar que mora, as roupas que veste e, em última instância sua cor, que deve ser associada às duas últimas características. Limitar-se-á aqui a analisar mais atentamente apenas o primeiro fator, já que é o elemento que constitui o discurso dos jovens referidos neste ensaio.
A mídia acaba por estigmatizar os espaços populares, visto que reproduz uma visão sociocêntrica[2] da cidade. E já que é o principal instrumento atual de construção de representações, ela é ao mesmo tempo em que alvo dos grupos, instrumento político. As estratégias de ação dos jovens envolvem: mutirão de grafite; mostra de vídeos, fotografia; shows de rock; encontros de hip hop; produção de fanzines, jornais comunitários, jornais de parede; instalação de rádios comunitárias.
Eles percebem no dia a dia o poder dos meios de comunicação na propagação de um ideal de consumo. Esse é de fato um dos maiores problemas por que enfrentam. Não diferente dos outros estratos sociais, bombardeados pelo desejo de consumo, mas sem poder de compra - diferença essencial - muitos dos moradores de favela descambam para formas ilícitas de obtenção dos produtos.
Com percepção clara disso os grupos de resistência buscam novas estratégias de formação identitária dentro da periferia. A Rede de Resistência Solidária, coletivo criado em janeiro de 2005, composto por cerca de 60 grupos e indivíduos cooperantes, se apropria bem dessa estratégia. Os integrantes, em sua maioria ligados ao hip hop e à grafitagem, produzem suas próprias roupas e são contra o uso de produtos de marca. Pretendem com isso, construir representações próprias da periferia, o que além de contribuir para uma economia solidária, promove uma construção simbólica que fortalece o movimento. Diferentemente do uso das estratégias estéticas e rituais de consumo pelas “subculturas espetaculares”, que é tido como vazio de sentido político (FILHO: 2006, 184); a utilização desses símbolos pela Rede[3] é carregada de intencionalidade. A partir do momento em que os jovens de periferia, de auto-estima frágil, por morar em um lugar representado apenas por suas ausências[4] (de saneamento, de saúde, de educação, de lei), passam a encarar essa mesma realidade de outra forma, como lugar de beleza bem própria, de arte, de produção e espaço de luta pelas conquistas sociais que lhes são de direito; uma nova representação social do lugar passa a ser construída.







Subcultura juvenil
Maria Socorro Liberal

Será a RRS e outros movimentos jovens de periferia como o MABi (Movimento Arrebentando Barreiras invisíveis)[5], do Coque, uma nova “subcultura juvenil”?[6]. Defende-se aqui que sim, afinal o estudo das subculturas pretende “avaliar que função o uso de artefatos da cultura de consumo, do tempo e do espaço territoriais assume perante as instituições hegemônicas da sociedade”. (FILHO: 2005). E, o aparecimento desses grupos como estratégias novas de representação social na periferia aparece como bastante relevante na mudança da dinâmica social desses espaços.
Concorda-se com as críticas de FILHO (2005) às concepções limitadoras dos pós subculturalistas - que apontam para um fim da carga política no discurso das subculturas decorrente de sua “profusão e volatilidade” no contexto do desenvolvimento da cultura de mídia e consumo:

A equação entre a divulgação das subculturas e o esmorecimento de seu caráter insurrecional – a presumida tese da aceitação passiva e coletiva de estios mercantilizados, destituídos de coerência e substância – despreza as inúmeras possibilidades de reapropriação criativa e política (conservadora ou progressista) que o visual, a música e o ideário subcultural original podem receber, em outros contextos temporais e espaciais.

Essa reapropriação é claramente percebida nesses grupos. Suas influências vêm de outras subculturas (os punks, os rockers). Exemplo disso, no caso do Mabi é sua ligação com o rock. O grupo é formado por integrantes de bandas do bairro e muitas de suas ações envolvem o estilo musical – festivais de bandas alternativas. No caso da Rede a influência clara é dos coletivos de hip hop que se iniciaram nos Estados Unidos. Apesar de lá, muito do sentido político dos grupos terem se esvaecido, aqui em Recife, o hip hop permanece firme em seu discurso. Acreditam eles que, pelo fato de manterem um distância em relação à mídia.
Apesar da própria ação dos jovens ser uma reafirmação do discurso de FILHO, de que ainda há sentido político nas ações de subculturas juvenis, mesmo na nova sociedade de consumo; o discurso desses mesmos jovens nega a aproximação com os meios de comunicação de massa. Acreditam - da mesma maneira que os pós-subculturalistas - que nesse caso ocorreria uma “reapropriação e comercialização” de seus ideais, redefinindo-os e esfacelando-lhe o sentido.
Há aqui um paradoxo. Se o próprio discurso[7] dos grupos foi formado pela apropriação daquele de outras subculturas; eles agora isolam aquele que construíram, temerosos de uma reapropriação deturpada. Parecem não abrir brechas para a propagação de seu ideal. É certo que têm motivos suficientes para tal postura. Se os seus espaços são estigmatizados justamente pelo fato da mídia padronizar seus conteúdos, o mesmo ocorreria com seus ideais. E isso já vem ocorrendo em larga medida. Há um esvaziamento político de suas expressões, quando são tiradas do contexto e extraído um sumo estético[8]. Fica a problematização de qual seria, então a melhor estratégia, para eles, de relação com os grandes meios.
Outro dos indícios da influência dessas subculturas anteriores para esses jovens é o forte caráter anarquista que marca seus discursos. “A comunidade pensa o melhor pela comunidade” é o que diz a Rede, lema que guarda semelhanças com o “Faça você mesmo”, dos punks. E é nesse sentido mesmo que seguem os jovens. Negando qualquer forma institucional de associação política, o que inclui as lideranças comunitárias de seus bairros. Os jovens lutam por uma “liberdade comunitária”, questionando a existência de uma universalidade desse direito, garantido na Constituição. Negam também as ações sociais das ONGs ou projetos sociais que se instalam em seus espaços, já que estes lidariam com a “fraqueza da comunidade”, ou seja, tratariam os moradores como carentes, necessitados de ajuda. Para a Rede, a comunidade tem sim força e energia para construir suas ações por ela mesma. “Estamos sempre em construção, somos o que optamos ser. Somos resposta criativa, o diálogo que depende da atitude de ser livre. Um voluntário que pensa e produz a reconstrução de sua própria casa”, diz seu jornal comunitário Manifeste-se. O que mostra que a Rede se reconhece enquanto grupo com identidade in status nascendi. (SODRÉ: 2005, 13).
É fato que as perspectivas de THORNTON (apud FILHO: 2005, 186), que reduzem o interesse das subculturas ao acúmulo de capital cultural e à dinâmica das distinções não estão de toda equivocadas. Há sim certas subculturas com esse viés. Afinal, a adolescência é uma fase de construção da personalidade do indivíduo, momento, então de fragilidade maior às influências dos mediadores sociais, quando os jovens se espelham mais do que constroem sua própria imagem. Ou, mesmo constroem sua imagem a partir da assimilação de outras. E esse processo acontece por uma necessidade de distinção, de auto-afirmação. Entretanto, o processo não para por aí, como previu Thornton, e mais uma vez concordando com Filho. A partir do momento em que os jovens começam a refletir mais aprofundadamente sobre a realidade que os circunda, podem ou negar essa realidade, não a tomando como sua responsabilidade; ou, e esse é o caso dos jovens aqui referidos, sentir um impulso de transformação dessa realidade. E aqui, mostra-se uma subcultura diferente das destacadas por Filho. Enquanto o autor fala das subculturas com engajamento político, sem distinguir uma classe, aqui, põe-se à mostra o engajamento de moradores da periferia. Revelando-se um novo viés também da figura de subalterno em Pernambuco, ressaltada por PRYSTHON (2006)[9]. Neste caso, o subalterno assume (conscientemente) em sua produção cultural uma postura eminentemente política. O hip hop e o grafite, por exemplo, não são tidos pelos jovens apenas como expressão musical, artística; mas, muito mais política. No mutirão de grafite da Rede – intervenção itinerante mensal que realizam nas comunidades - a pichação é forma de integração dos grupos (crews) com a comunidade, de propagação de idéias.
É primordial ressaltar o caráter essencialmente simbólico da luta desses jovens, o que aqui tem força política inegável. Contrariamente à idéia dessa apropriação como estratégia apenas para “sobreviver e conquistar espaço cultural (tempos e lugares de diversão, circulação e manifestação)”, referida pela Escola de Birmingham, ao que chama “subculturas espetaculares”. (FILHO: 2006, 184). Os jovens de periferia, com a construção de uma nova representação social deles próprios, e de suas comunidades, conquistam não apenas espaço cultural, mas espaço político. A partir do momento em que são reconhecidos como atores sociais, conquistam lugar dentro da luta contra hegemônica. Da mesma maneira, a favela, a partir do momento em que se mostra enquanto ambiente propositivo, instituinte da cidade, sai de seu lugar de “ausência”.




Sobre a nova minoria
Caio Azevedo Monte

Liberal argumenta com clareza sobre a classificação dos “grupos de resistência de jovens da periferia” como uma nova minoria. No entanto, alguns questionamentos e destrinchamentos podem e devem ser feitos.
Em primeiro lugar, considerar apenas os “grupos” como minoria gera certa estranheza. Seria como considerar apenas as feministas – um grupo – como minoria, e não as mulheres como um todo. Não são apenas os grupos pertencentes a uma minoria que travam de forma mais direta a luta contra-hegemônica que trava a minoria. Na caracterização tentada por Liberal, o lugar minoritário, o “topos polarizador de turbulência e conflitos” (SODRÉ: 2005, 12) não são os grupos, e sim as comunidades. Então, a minoria a que ela se refere seria, a meu entender, os moradores das comunidades, das periferias. Os “grupos de resistência de jovens da periferia” seriam um formato de “tomada de posição no interior da dinâmica conflitual” (SODRÉ: 2005, 12). Sendo assim, essa minoria seria nova, apenas no sentido de que não é reconhecida ainda como tal, já que o surgimento das comunidades (periferias ou favelas) não são um fenômeno novo na lógica do capitalismo.
Segundo, é bom ressaltar que o fato de tais grupos serem juvenis[10] não significa que suas preocupações e lutas se focam nos estereótipos e problemas da juventude. Contudo, o preconceito que os grupos sofrem dentro das próprias comunidades estão afiliados ao estereótipo da “juventude como problema” (FILHO: 2006, 48). Segundo alguns integrantes do MABi, pessoas da comunidade que não conhecem o trabalho do movimento os vê como um bando de jovens maconheiros, rebeldes e problemáticos. Tais alcunhas estão atreladas ao estereótipo de jovens perigosos, em situação de risco, sem perspectiva:

As discussões sobre a sociedade de risco incrementadas desde o final do século passado reativaram, em grande parte, as verdades históricas e os pânicos morais a respeito do jovem como delinqüente, desviante ou desfavorecido. (FILHO: 2006, 48)

Percebe-se então que as intervenções nas comunidades - mutirões da Rede de Resistência Solidária, shows organizados pelo MABi, etc. -, além de ser “expressão musical, artística e política” e uma “forma de integração dos grupos”, são maneiras de propaganda e divulgação de suas intenções, para representá-los positivamente dentro da própria comunidade, desconstruindo os estereótipos impugnados sobre eles.
Em terceiro lugar, é importante lembrar que o conceito de minoria não é utilizado, na tradição sociológica, para designar questões de classe social, ou seja, o conceito transcende às lutas de classes do ideário marxista. Assim, resta saber se o discurso e as aspirações de tais jovens são alicerçados nesse ideário. Não só por uma questão conceitual, mas para caracterizar de forma precisa a posição dos grupos de resistência. Para isso, analiso a edição de maio do jornal de parede Manifeste-se produzido pela Rede de Resistência Solidária. Este possui um projeto gráfico arrojado, com desenhos, quadrinhos e ótima disposição temática.
O tema principal do jornal é a Liberdade Comunitária. Há pelo menos duas aparições de grande destaque mais outras três menções nos cantos. Além da Liberdade, o outro tema realçado é a Emancipação Comunitária. Vemos um discurso muito voltado para reforçar a identidade da comunidade: “A comunidade pensa o melhor pela comunidade”, “A comunidade faz o melhor pela comunidade!”. Daí, é possível assinalar o ethos minoritário que se defende. A crítica à sociedade capitalista, seu ideal de consumo e suas contradições também estão patentes: “Onde você encontra a história, a imagem, a cara da sua comunidade? Em qual supermercado? Em qual programa de TV?” O quadrinho retrata a alienação do trabalhador pautada no ideário marxista. Vê-se também a crítica à desigualdade social (“A falta de emprego e de distribuição de renda, a concentração das terras nas mãos de poucos, e os altos impostos sem a garantia dos direitos básicos atormentam o País”). Portanto, muitas questões levantadas pelos grupos de resistência juvenil estão atreladas à questões de classe. Todavia, a orientação ideológica por eles parece apontar para outros horizontes. Como coloca Sodré, a noção de minoria está associado a frações de classe envolvidas com a questão social[11]. Assim como a luta minoritária dos negros – cujo impulso de transformação é a equidade racial – por vezes se confunde com a luta de classes, a batalha contra-hegemônica desses grupos também é passível dessa fusão. Por exemplo, um dos principais argumentos para instalação da cota para negros nas universidades é a desvantagem social histórica da minoria. Tal desvantagem social nada mais é do que a posição desfavorecida dos negros na pirâmide social, porém, para dissolver o preconceito contra o negro dentro da universidade, é importante sua presença lá, mesmo que seja através de cota. Semelhante acontece com tais grupos: suas intervenções não são precipuamente dirigidas para extinguir a pobreza nas comunidades; elas, mais do que isso, intentam dissolver os preconceitos e estigmas sociais de violência sofridos pelos moradores desses lugares. A emancipação almejada é de outra natureza que não classista[12], semelhante às minorias “consagradas”. O impulso de transformação dos grupos de resistência de jovens é justamente o fim dos estigmas e estereótipos sofridos pela condição identitária in status locale symbolikós[13] (ou nascendi como coloca Sodré (2005) e Liberal se se levar em consideração que muitas famílias jamais conseguem ter condições financeiras para mudar para bairros “mais nobres”) de ser habitante das comunidades. São comuns relatos das pessoas colocarem nos currículos que moram em outro bairro para ter mais chances de serem aceitas nos empregos.
Um fato curioso trazido à tona por Liberal logo no começo de seu texto Nova Minoria é que esses grupos costumam denominar o lugar ondem moram de comunidade, enquanto que esses espaços são comumente chamados de favela. Simbolicamente, comunidade traz um sentido mais “familiar”, onde as pessoas se conhecem, convivem, compartilham dos mesmos problemas, dividem as mesmas benesses. Enfim, uma valoração claramente positiva de união e congregação. A verdade é que a “união comunitária” é algo longe da realidade. Tais espaços são repletos de contradições e conflitos internos: o Coque, onde habitam mais 40 mil pessoas é dividido em áreas, nas quais os moradores têm medo de transitar livremente sem a devida permissão dos manda-chuvas que comandam o local. Lógicas análogas reinam em outras comunidades.
É bom frisar que, mesmo a luta contra-hegemônica dos grupos se dando de forma midiática, ela não se dá no nível macromidiático. Como destaca Liberal, há motivos para que eles busquem se afastar da mídia de massa. Em outras palavras, existe um certo medo de que seus discursos e ideais sejam absorvidos e seus significados se percam. Constantemente, eles criticam os grandes meios, principalmente a TV como um meio “deseducativo”, alienante. Assim, as ações e intervenções dos grupos funcionam na esfera micromidiática (THORNTON apud FILHO: 2005), no sentido de que suas atuações são presenciais com menor poder de alcance mas com grande potencial gregário. É a comunicação pensada mais no nível interpessoal (ou mais voltada para) do que no nível midiatizado. Não que eles se neguem por completo a aparecer em jornais ou televisão. Na verdade, eles buscam os mecanismos para formação de uma linguagem e produtos (não só midiáticos) próprios[14]. A Rede de Resistência Solidária já produziu diversos vídeos sobre os mutirões, sobre meninos que dançam break, etc; a Rede também faz bimestralmente o jornal de parede Manifeste-se que são pregados nas diversas comunidades e pontos estratégicos; o MABi confeccionou um vídeo sobre a comunidade do Coque. Enfim, eles se encaminham para uma produção autônoma e desvinculada dos grandes meios de comunicação.
Diferente das representações audiovisuais do subalterno pelo subalterno exemplificadas por PRYSTHON (2006), as produções dos grupos trabalhados aqui buscam se afastar da linguagem e estética mainstream, mesmo havendo diálogo e negociação. Mas, mesmo diferente das citadas imagens trabalhadas por Prysthon, a assertiva da autora em relação às imagens da subalternidade “(...) elas revelam uma maior autonomia por parte desse sujeito periférico, sugerem que é possível ir deslocando as margens, que é possível repensar a idéia de centralidade” (PRYSTHON: 2006, 99) são válidas para a produção de grupos como o MABi ou a RRS.
Em suma, observa-se uma crença na libertação interna da comunidade, através da conscientização e construção de uma representação social própria, fortalecendo a identidade do grupo comunitário. Para isso, eles não negam a ajuda e participação (não são radicais xenofóbicos) de agentes externos solidários - até porque eles não detêm a tecnologia e os “meios de produção” para realização autônoma de seus próprios produtos - no entanto, a presença desses agentes é vista sempre com cautela.












Bibliografia

FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e mudança social. Brasília. Ed. Universidade de Brasília, 2001. 316p.
SILVA, Jailson de Souza e. Um espaço em busca de seu lugar: as favelas para além dos estereótipos. Rio de Janeiro: Observatório de Favelas.
FILHO, João Freire. Formas e normas da adolescência e da juventude na mídia In FILHO, João Freire, org; VAZ, Paulo, org. Construções do Tempo e do Outro: representações e discursos midiáticos sobre a alteridade. Rio de Janeiro: Mauad, 2006. p. 37 – 63.
PRYSTHON, Ângela. Entre as hipérboles freaks e as fantasias hegemônicas: representando a subalternidade no audiovisual nordestino In FILHO, João Freire, org; VAZ, Paulo, org. Construções do Tempo e do Outro: representações e discursos midiáticos sobre a alteridade. Rio de Janeiro: Mauad, 2006. p. 85 – 100.
FILHO, João Freire. Repensando a resistência juvenil: música, política e a recriação do espaço público In PRYSTHON, Ângela, org. Imagens da cidade – espaços urbanos na comunicação e cultura contemporâneas. Porto Alegre: Sulina, 2006. p. 182 – 201.
SODRÈ, Muniz. Por um conceito de minoria In PAIVA, Raquel, org; BARBALHO, Alexandre, org. Comunicação e cultura de minorias. São Paulo: Paulus, 2005. p. 11 – 14.
PAIVA, Raquel. Mídia e política de minorias In PAIVA, Raquel, org; BARBALHO, Alexandre, org. Comunicação e cultura de minorias. São Paulo: Paulus, 2005. p. 15 – 26.
MANIFESTE-SE. Rede de Resistência Solidária. Ano 1, maio 2007.
DES classificados. ONG Etapas. Ano 1, nº 1, julho 2007.
[1] Característica importante dos grupos é o fato de chamarem o lugar que moram de comunidade. Já aí está imbutido um espírito de identidade, de pertencimento. É uma valoração positiva do lugar. Enquanto isso, esses mesmo espaços são chamados de favela pelos habitantes da pretensa cidade - digo pretensa já que as favelas (ou comunidades) não estão, ou não deveriam estar isoladas dela. Entretanto, quando a “cidade” quer ter um discurso politicamente correto faz uso também da palavra comunidade.
[2] O Sociocentrismo se materializa quando, a partir de padrões de vida, valores e crenças de um determinado grupo social, se estabelece um conjunto de comparações com outros grupos, colocados, em geral, em condições de inferioridade. (SILVA, Jailson de Souza e. Um espaço em busca de seu lugar: as favelas para além dos estereótipos. Observatório de Favelas. Rio de Janeiro)
[3] Serão utilizados aqui, os termos Rede, ou RRS para designar a Rede de Resistência Solidária.
[4] Reflexão de Jailson de Souza e Silva, geógrafo, doutor em educação, Professor da Universidade Federal Fluminense e um dos fundadores do Observatório de Favelas do Rio de Janeiro, uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público). Constitui-se numa rede sócio-pedagógica, com uma perspectiva técnica-política, integrada por pesquisadores e estudantes vinculados a diferentes instituições acadêmicas e organizações comunitárias.
[5] O movimento, que existe há cinco anos é formado por jovens da comunidade do Coque e tem os seguintes objetivos “lutar contra todo tipo de discriminação através da arte; mudar o estigma do bairro do Coque”, como escrevem em seu regimento interno.
[6] Os estudos em torno das subculturas juvenis foram feitos pelo Centro de Estudos Culturais Contemporâneos da Universidade de Birmingham há aproximadamente 30 anos. Eram uma resposta a um esvaziamento de potencial político dos jovens feito por imagens em torno de uma “cultura juvenil”, propagada pela imprensa e publicidade; que os tornava massa indiferenciada e restringia seus interesses ao consumo e lazer. Buscava, em resposta, “erigir um retrato mais meticuloso das raízes sociais, econômicas e culturais das variadas subculturas juvenis e de suas vinculações com a divisão do trabalho e as relações de produção, sem negligenciar as especificidades de seu conteúdo e de sua posição etária e geracional.” (FILHO: 2006)
[7] Entende-se aqui por discurso, “o uso da linguagem como forma de prática social, e não como atividade puramente individual ou reflexo de variáveis situacionais” (FAIRCLOUGH : 2001, 90)
[8] É dessa forma que os grupos enxergam, por exemplo, a exposição Estética da Periferia, que teve espaço no MAMAM (Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães), de 26 de Julho a 27 de Agosto de 2007. A idéia da exposição foi trazer para o museu objetos, fotos e “soluções criativas” da periferia. Galo de Souza, integrante da Rede, apesar de ter participado do evento, defende que sua atuação foi estratégica, para mostrar sua arte (o grafite); mas traz um discurso bem crítico ao evento, afirma que a estética da periferia está nas ruas, e não em um museu, lugar freqüentado pela elite (sic).

[9] A autora, ao analisar representações do subalterno feitas por ele mesmo, destaca certo “empoderamento” deste, que construiria sua imagem com maior “autonomia”, despida de estereótipos. Atitude esta que seria, em muitos casos “inconsciente”, refletida nas “apropriações das narrativas hegemônicas”, que realizam em suas produções.






[10] “São jovens que fazem parte de uma juventude que insiste (...)”; “Aqui está expresso o ponto de vista de cada jovem de uma das muitas faces da Sociedade brasileira, uma juventude que não se conforma com as injustiças e desigualdades da nossa realidade (...)” (DESclassificados, ano 1, nº 1, julho 2007; fanzine confeccionado por diversos jovens da ONG Etapas, entre eles integrantes do MABi).
[11] “a noção contemporânea de minoria (...) refere-se à possibilidade de terem voz ativa ou intervirem nas instâncias decisórias do Poder aqueles setores sociais ou frações de classe comprometidos com as diversas modalidades de luta assumidas pela questão social.” (SODRÉ: 2005, 11-12)
[12] “Emancipação Comunitária (...) De casa em casa, se formam as comunidades. Do seu jeito, com informações e o conhecimento sobre os direitos coletivos, cada casa será um passo para o equilíbrio social e comunitário.” (MANIFESTE-SE. Rede de Resistência Solidária. Ano 1, maio 2007)
[13] A luta dos jovens envolve a transformação da representação social que as favelas e seus moradores têm dentro da cidade. Ou seja, sua identidade em comum é o lugar simbólico que a comunidade, e tudo que lhe é concernente, ocupa na construção social da cidade.
[14] “Precisamos produzir: alimentos, informativos, vestimentas, músicas, filmes, idéias e ideais comunitários, com a nossa cara. A comunidade precisa consumir o que é produzido pela comunidade, o que é expressado, sentido, pensado, para libertar” (MANIFESTE-SE. Rede de Resistência Solidária. Ano 1, maio 2007)

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